segunda-feira, março 08, 2010

“100% Vegetal” Continua a Ser Motivo de Polémica


Vídeo da Reportagem 100% Vegetal

No seguimento das inúmeras queixas recebidas pela SIC e pela Visão a respeito da reportagem 100% Vegetal, a SICtentou lavar a cara com a retransmissão da reportagem na SIC Notícias, seguida de um debate.
Se é difícil compreender o porquê da repetição de uma reportagem sem nenhum valor jornalístico e que apenas desinforma o público, tão-pouco se compreende que a Dr.ª Isabel do Carmo, pessoa sem nenhuma idoneidade para falar sobre dietas vegetarianas, tenha sido convidada para o debate. Felizmente, nem tudo foi mau e há que destacar a presença da nutricionista Dr.ª Madalena Muñoz, que muito bem informou acerca das dietas vegetarianas e fez o melhor que era possível fazer para rebater os ataques ilógicos feitos pela Dr.ª Isabel do Carmo.
Claro que este debate não veio de forma nenhuma remediar os danos da reportagem original. Por um lado, o debate foi visto apenas por uma fracção ínfima dos espectadores que assistiram à reportagem original e, por outro lado, foi dada novamente voz à Dr.ª Isabel do Carmo para reforçar o seu ataque às dietas vegetarianas e aos vegetarianos. Nestas condições, é evidente que a SIC falhou na sua obrigação de repor a verdade jornalística, pelo que a Associação Pelos Animais já remeteu uma queixa contra a SIC à Entidade Reguladora Para a Comunicação Social. Não menos graves foram os ataques da Dr.ª Isabel do Carmo à dieta vegetariana e aos vegetarianos, que já são recorrentes, motivo pelo qual a Associação Pelos Animais enviou à Ordem dos Médicos a queixa que abaixo se transcreve.
Vídeo do Debate Acerca da Reportagem 100% Vegetal

Queixa Enviada à Ordem dos Médicos
Assunto: Falhas Deontológicas Graves da Dr.ª Isabel do Carmo
A Dr.ª Maria Isabel Augusta Cortes do Carmo, médica especialista em Endocrinologia e Nutrição, tem atacado recorrentemente a dieta vegetariana de todas as formas possíveis e imaginárias nos meios de comunicação social, numa posição desrespeituosa, agressiva e insultuosa para com os vegetarianos, desconsiderando por completo a profissão que exerce e o vasto público que a escuta.
Se a Sr.ª Dr.ª Isabel do Carmo não aprecia a dieta vegetariana nem os vegetarianos, está no seu direito e tem certamente toda a liberdade para exprimir as suas opiniões. Aquilo que não é de todo admissível é que, aproveitando-se da sua projecção mediática, venha para a praça pública proclamar enormidades acerca da dieta vegetariana e insultar os vegetarianos na qualidade de médica especialista. Não sabemos o que move a Dr.ª Isabel do Carmo nesta cruzada contra o vegetarianismo, mas é notório que não é o interesse da população, pois os seus argumentos nada têm de científico ou informativo. Pelo contrário, as suas intervenções apenas promovem o obscurantismo e o preconceito.
Ninguém nega que existem muitas potenciais carências numa dieta vegetariana que não seja convenientemente planeada, tal como existem muitas potenciais carências em qualquer outra dieta que não seja equilibrada. A Dr.ª Isabel do Carmo tem toda a liberdade para falar nessas potenciais carências, se assim o entender. Aquilo que não se lhe admite é que fale de possibilidades como se de factos se tratassem, ao mesmo tempo que insulta sub-repticiamente os vegetarianos e sugere que todos eles têm carências nutricionais que os tornam apáticos, irritadiços ou até dementes.
Muito convenientemente, a Dr.ª Isabel do Carmo ignora por completo os diversos estudos que têm demonstrado em consonância as vantagens das dietas vegetarianas e que estas dietas são perfeitamente adequadas para todas as fases da vida humana. Segundo a Associação Americana de Nutrição e também segundo a associação Nutricionistas do Canadá, as dietas vegetarianas oferecem várias vantagens nutricionais, incluindo: níveis mais baixos de gordura saturada, de colesterol e de proteína animal, bem como níveis mais elevados de hidratos de carbono, de fibra, de magnésio, de potássio, de ácido fólico e de antioxidantes como, por exemplo, vitaminas C e E e fitoquímicos. Os estudos têm mostrado que os vegetarianos têm índices de massa corporal inferiores aos dos não-vegetarianos, bem como taxas mais reduzidas de morte por doença isquémica do coração; os vegetarianos também apresentam níveis inferiores de colesterol no sangue, tensão arterial mais baixa, bem como menores taxas de hipertensão, de diabetes do tipo II e de cancro do cólon e da próstata.1
Passamos agora a transcrever e comentar algumas das afirmações proferidas pela Dr.ª Isabel do Carmo num debate sobre vegetarianismo emitido pela SIC Notícias, no passado dia 20 de Janeiro de 2007 e repetido no dia seguinte.
A Dr.ª Isabel do Carmo afirma que “uma pessoa que faça uma alimentação estritamente vegetariana não está a ingerir vitamina B12”. Esta afirmação é uma falácia e pretende sugerir que a vitamina B12 é de origem animal, quando, na verdade, a B12 é produzida por microorganismos. A maioria dos vegetarianos tem perfeita consciência da importância da vitamina B12 e ingere-a por meio de alimentos enriquecidos ou de suplementos.
A Dr.ª Isabel do Carmo afirma que “o zinco está presente nos frutos secos, isso está, mas quando nós vamos ver a quantidade de frutos secos que terá a quantidade de zinco que tem, por exemplo, uma peça de carne ou outro produto vegetal, era preciso que comêssemos uma tigela inteira de frutos secos”. Com esta afirmação, a Dr.ª Isabel do Carmo pretende sugerir que é impossível aos vegetarianos obterem a quantidade necessária de zinco, a menos que comessem uma tigela inteira de frutos secos, o que seria impraticável. Trata-se, mais uma vez, de uma afirmação completamente infundada destinada apenas a desinformar a população em geral. Na verdade, os estudos demonstram precisamente o contrário: as dietas vegetarianas bem planeadas conseguem satisfazer facilmente as necessidades de zinco, contendo geralmente quantidades adequadas deste mineral que se pode encontrar em legumes, cereais e frutos secos.2, 3
A Dr.ª Isabel do Carmo afirma acreditar que existe “uma relação causa/efeito entre uma dieta vegetariana e uma maior irritabilidade” e que "tem visto estudos nesse sentido". Obviamente, é mais uma afirmação sem qualquer fundamento científico, cujo único intuito é insultar e provocar os vegetarianos.
Confrontada com o facto de que é certo e sabido que a B12 é fundamental e que os vegetarianos a conseguem obter de forma facílima por meio de alimentos enriquecidos ou suplementos, a Dr.ª Isabel do Carmo afirma que “comprar ao balcão, embalado e comercializado, elementos que existem à sua volta na natureza, isto é uma verdadeira distorção da natureza humana”. Ficamos, portanto, a saber que as pessoas que optam por obter vitamina B12 sem causar a morte e sofrimento a animais estão a distorcer a natureza humana — a forma “humana” de obter B12 será, na opinião da Dr.ª Isabel do Carmo, matar os animais que estão na natureza e comê-los logo ali. Mais uma afirmação absurda sem nada de científico nem de humano, que desrespeita todas as pessoas compassivas.
Naquilo que só poderá ser classificado como uma tentativa desesperada de semear o medo quanto à dieta vegetariana, a Dr.ª Isabel do Carmo sugere ainda que toda a soja que os vegetarianos consomem é transgénica. Trata-se de uma afirmação completamente falsa, já que é obrigatória a rotulagem de todos os produtos transgénicos à venda em Portugal e praticamente todos os produtos de soja para alimentação humana em Portugal são de soja não-transgénica. Por outro lado, a Dr.ª Isabel do Carmo certamente não desconhece que a esmagadora maioria da soja e milho transgénicos são utilizados precisamente nas rações para animais e que é quem consome animais que está, muito provavelmente, a consumir indirectamente alimentos transgénicos.
Ao longo dos anos, têm sido claras as violação do Código de Deontologia Médica por parte da Dr.ª Isabel do Carmo, nomeadamente do artigo 12.º, «Em todas as circunstâncias deve o Médico ter comportamento público e profissional adequado à dignidade da sua profissão.»; do número 1 do artigo 41.º, «O Médico deve respeitar escrupulosamente as opções religiosas, filosóficas ou ideológicas e os interesses legítimos do doente.»; e, evidentemente, do número 1 do artigo 11.º do Regulamento Geral Sobre Publicidade, Divulgação e Expressão de Actividade Médica, «As informações médicas a fornecer devem ser objectivas e correctas do ponto de vista técnico, de acordo com os conhecimentos do momento e devem ter por fim a promoção da educação sanitária da população».
Faça ao exposto, solicitamos à Ordem dos Médicos que sejam aplicadas à Dr.ª Isabel do Carmo as sanções disciplinares adequadas para que estas situações vergonhosas para toda a classe médica e insultuosas para todos os vegetarianos não se tornem a repetir.
  1. Mangels AR, Messina V, Melina V. Position of the American Dietetic Association and Dietitians of Canada: Vegetarian diets. J Am Diet Assoc 2003; 103:748-65.
  2. Messina V, Burke K. Position of American Dietetic Association: Vegetarian diets. J Am Diet Assoc 1997; 97:1317-21.
  3. Freeland-Graves JH, Bodzy PW, Eppright MA. Zinc status of vegetarians. J Am Diet Assoc 1980; 77:655-61.
Publicado quarta-feira, 23 de Janeiro de 2008




1 comentário:

  1. "Anemia" hahaha - Foi o diagnóstico da doutora em relação à perda de peso e valores de gordura durante a experiência "jornalística".
    Os valores que supostamente baixaram para metade (devido ao corpo não ter tido tempo de adaptação para desenvolver a capacidade de processar novos tipos de alimentos), provavelmente iriam baixar de qualquer forma por causa directa do EXCESSO desses nutrientes que há habitualmente na alimentação.
    A transição de dieta penso que deveria ser feita gradualmente para poder funcionar.
    Em relação à B12, o meu corpo produz isso em quantidade suficiente.
    Não noto qualquer deficiência na minha performance física e emocional em relação a pessoas omnívoras.
    Não tomo quaisquer suplementos, e raramente como algas devido aos preços elevados que se praticam.
    Também não vou ao médico, não tomo vacinas e os meus remédios (quando necessários) são à base de plantas medicinais.
    "Plano Alimentar"? Não tenho. As minhas necessidades nutricionais já se traduzem em sinais sentido pelo corpo, naturalmente...
    Eu tenho a sorte de ter iniciado o veganismo desde sempre. Os meus pais já o eram e tive de me sujeitar a uma rejeição social dos meus ideais e no princípio a experiência escolar foi muito dolorosa
    Eu cresci com isso, a vantagem de ser "sujeitado a essa prática", desde sempre. Como foi um precedente, houveram aspectos negativos sociais, mas a culpa não foi devido ao tipo de dieta, mas devido à falta de informação do público em geral. Para evitar problemas sociais, por vezes como um bolo ou um chocolate que contenha uma baixa percentagem de leite/ovos, fugindo ao radicalismo imposto pelas sociedades de nutricionistas, em que se tem que fazer um plano alimentar.
    Detesto este médicos que pensam saber tudo e que nos enganam com informação duvidosa
    A soja é TODA transgénica?!?!?!? Hmmm lol
    Tenho 33 anos e não tenho qualquer intenção de começar a consumir produtos animais propositadamente, de vez em quando entra um produto "contaminado" mas porque não existem alternativas.
    Com uma vontade social maior de mudar, se houver uma compreensão maior do público em geral das dificuldades que temos em comer fora, por exemplo, as nossas vidas e as de todos serão realmente mais fáceis e saudáveis

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