segunda-feira, julho 26, 2010

Os animais e o circo

Por Mário Nunes

Recentemente, e finalmente, foi publicada legislação que proíbe a aquisição de animais de certo porte e perigosos pelos proprietários dos circos e a reprodução dos que possuem em “eterno” cativeiro. Uma lei que, no nosso entendimento, já deveria existir há mais tempo e que vai terminar com o sofrimento permanente de seres vivos, enjaulados e que, para gáudio de alguns, são molestados todos os dias.
Aplaudimos o legislador e o Governo, porque não basta o animal – exemplo do tigre, do leão, do elefante ou cavalo – passar a vida dentro de uma gaiola (sem dimensões) à inclemência do tempo (frio ou calor), ter alimentação, quantas vezes insuficiente, ser “admoestado” e obrigado pela coação a aprender determinados gestos e atitudes, para em público se portar como máquina articulada (autêntico robot), sujeitar-se à iluminação intensa das luzes de um palco, “ignorar” os barulhos dos espetadores e aceitar o tratamento de intimidação por parte do domador para poder cumprir os “ensinamentos” recebidos e, assim, “alegrar” e surpreender a assistência. E, de terra em terra, de vozearia em vozearia, de holofote em cadeia de lâmpadas, de sofrimento em sofrimento, peregrina, peregrina, até à inutilidade, até ser “objeto” sem valor, acabando os seus dias na mais deplorável existência. Infelizes animais.

Mas, se o circo em Portugal fica impedido de utilizar animais para divertir alguns, lembramos aqueles que em residências, em espaços exíguos ou acorrentados à entrada de portas, garagens, portões e outros sítios (exemplo de cães), logo em cativeiro forçado, cumprem o seu ciclo de vida, quantas vezes abandonados na velhice ou na doença que os atormenta, escorraçados do dono e atirados borda fora, num pinhal ou na cidade ou aldeia.

Há mais de um ano junto da casa onde vivemos, apareceu um gato preto de estimação. Indesejado, possivelmente, pelos donos, e assustado com os automóveis, com o ladrar dos cães que “passeiam” à trela dos possuidores, com fome, miava, miava, miava e fugia à aproximação das pessoas. Passada a presença fugaz do transeunte, regressava ao lugar que escolhera para “habitar”, possivelmente o sítio em que fora abandonado. Nós e outros vizinhos passámos a acarinhar o animal e a dar-lhe alimento. O gato, gradualmente, foi esquecendo os ingratos donos, passou a vaguear pelo bairro e, atualmente, é conhecido e acarinhado numa vasta área da Solum. Onde dorme não sabemos. Contudo, todas as noites vem debaixo da nossa janela para receber a “ceia”.

Ora, caros leitores, este pequeno episódio alusivo a um ser vivo que foi lançado à rua, reflete o universo de milhares e milhares de diferentes animais que sofrem, porque alguém desejou ter um “brinquedo” e farto ou sem possibilidades de o sustentar, encontrou a rua, longe da residência, como o lugar propício para se livrar da sua companhia.

Quando vemos jovens “peregrinos” aventurados à sua sorte por motivo da droga e de outros vícios e outras circunstâncias adversas, acompanhados, geralmente, de cães, associamos à sua situação o ditado popular “o pobre procura o pobre”, neste caso são dois abandonados que se associam para vencer a adversidade. Tenhamos sensibilidade para tratar bem os animais.
Fonte: O Despertar

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