Mostrar mensagens com a etiqueta touradas. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta touradas. Mostrar todas as mensagens

terça-feira, outubro 23, 2012

"Secretário de Estado diz que um caçador é um bom conservacionista"

"Um caçador é obrigatoriamente um bom conservacionista" 

"Não podemos ter preconceitos relativamente a essas tradições (tourada), que fazem parte do povo e fazem parte do país"


Vasco Reis:
Exploração desenfreada dos recursos, do ambiente, da floresta, da tranquilidade, dos animais chamados cinegéticos, dos cavalos para corridas e apostas, dos touros e cavalos nas touradas e a encoberto, etc. Que saque do território, dos animais, das pessoas. Que país martirizado!


André Silva:
A estirpe que nos governa, seja nas finanças, na cultura, na educação, na agricultura, na saúde, ou nas florestas e natureza mede-se toda pela mesma bitola. Importa o lucro, o compadrio de famílias e associações. O bem comum, o bem de tudo e de todos não é pensado nem colocado em prática. Estes senhores, e todos os que têm governado o país nos últimos 40 anos têm que sair.

Zé Maria Miranda:
... o ex.mo S.E. devia de estar a pensar neste: 

Roberto Rico (Roberto R. Mt Noudar)


Campelo considera que a caça tem uma receita potencial forte.
Foto: Enric Vives-Rubio 
Daniel Campelo, governante responsável pelas florestas e conservação da natureza, assegura que nada está decidido quanto à abertura de portas à extensão do eucalipto no país.

No meio das pilhas de papéis que cobrem a ampla secretária de Daniel Campelo, há um documento, num dos cantos, que se destaca: uma proposta para regulamentar as apostas hípicas. É um jogo como outro qualquer, diz o secretário de Estado das Florestas e Desenvolvimento Rural, mas com o condão de impulsionar toda a indústria à volta do cavalo. Campelo, 52 anos, é quem está agora também à frente da conservação da natureza. Não é um novato, tendo criado, quando era presidente da Câmara de Ponte de Lima, a Paisagem Protegida da Lagoa de Bertiandos e São Pedro de Arcos. Agora, o secretário de Estado quer uma área protegida em cada concelho, gerida pelos próprios municípios.

Não se sentiu um peixe fora de água quando foi convidado para assumir a pasta da Conservação da Natureza?

Não. É uma área que sempre gostei, onde tenho algumas experiências. Mas há muitas coisas novas.

Quando foi anunciado que a conservação da natureza ficaria com as florestas, houve pessoas preocupadas que um sector ficasse submetido ao outro. A fusão está a funcionar?

É um processo gradual e lento. Uma coisa é o processo administrativo e esse está consumado com a aprovação da lei orgânica – há agora uma fase que é a de aprovação dos estatutos que ainda não está terminada – e depois há o processo de criação de ligações, a chamada “química” institucional. Faz toda a lógica a fusão destas áreas porque não é possível ter conservação da natureza sem o envolvimento dos agentes que trabalham a terra, a floresta, a caça.

Pode dar exemplos?

A prevenção e o combate a fogos florestais. Nas áreas protegidas, esse trabalho era feito pelo Instituto de Conservação da Natureza e Biodiversidade (ICNB). Agora, o esforço é feito com todos os meios humanos e materiais da antiga Autoridade Florestal e do antigo ICNB. Em algumas zonas, havia quem tivesse dotação para combustível mas não tinha viaturas e noutros locais era ao contrário.

Um dos focos de tensão entre as duas áreas é o código de arborização. Há o receio de que os interesses da floresta produtiva se sobreponham.

O receio é legítimo. Este é um projecto apresentado à discussão pública e há a preocupação em responder a constrangimentos identificados: a excessiva burocracia, o tempo excessivo para o licenciamento, as excessivas entidades a consultar. Há alguma polémica sobre como isso se pode fazer no futuro, sobre a possibilidade de não haver controlo sobre o que os proprietários vão plantar. A discussão é para sinalizar todas essas situações para que haja um documento que seja o mais consensual possível. Na segunda fase, o Governo irá olhar para o que resultar da discussão pública e terá de fazer um debate com outros organismos e depois elaborará o documento final.

Havendo Planos Regionais de Ordenamento Florestal (PROF) e estando a rever-se os Planos Directores Municipais (PDM) porque não definir logo as áreas onde plantar e o que é que se pode plantar, evitando-se a burocracia?

Os PROF já estão desajustados da realidade e foram suspensos até 2013. É preciso que haja instrumentos de gestão racional que tenha em conta a realidade. Estamos empenhados na revisão de pacotes legislativos na área da floresta e da conservação que visa fazer essa adaptação. Precisamos de estimular. Não basta ter mecanismos financeiros no Programa de Desenvolvimento Rural (Proder) se depois não houver formas de aproveitamento desse dinheiro.

O que tem acontecido em vários quadros comunitários de apoio é que o dinheiro para as florestas não é todo utilizado.

É verdade. Resulta de um programa mal ajustado à realidade nacional mas também da atitude dos proprietários pois torna-se mais barato abandonar do que gerir o espaço. Temos de criar mecanismos em que se torne mais caro abandonar a floresta do que geri-la ou entregar a gestão. É o que procuramos com a bolsa de terras. Quem gere não paga ou tem uma redução e quem não gere tem de pagar.

Mas esses benefícios só serão atribuídos depois da troika.

Sim, por causa do memorando de entendimento. Mas são só dois anos. E depois de ter sido feito o cadastro. Sem isso, todos os mecanismos são difíceis de implementar.

Já ouvimos isso de vários governantes.

Em Abril, foram criadas duas comissões: uma para fazer o cadastro e outra para a gestão activa do espaço rural e florestal. Não posso falar pelo passado. O cadastro é a ferramenta mais importante de gestão do território. Espero que este governo consiga, pelo menos, dar início a esse processo.

O cadastro é um trabalho monstruoso.

Estamos a estudar mecanismos que nos permitam fazer esse trabalho com menos peso e custo do que estava previsto. É melhor ter um cadastro com alguma imperfeição do que não ter nenhum. Há muita coisa já feita, não está é integrada. Vamos começar por aí.

Que floresta quer o Governo para o país? Prevê uma expansão dos eucaliptos?

O mais importante é tirar partido da área florestal já existente pelo melhor ordenamento. Podemos aumentar a produtividade florestal em até 300% só pela gestão da propriedade. Temos ainda um milhão e meio de hectares de áreas abandonadas, incultas e alguns matos.

A ideia é expandir a floresta?

A ideia é aproveitar essas áreas com potencial florestal e geri-las em nome da sustentabilidade ambiental, económica e social. Há áreas florestais que não têm procura comercial e não vão ser os produtores a plantar essas áreas se não houver incentivos. Não podemos convencer o produtor a fazer uma coisa que ninguém compra. Mas há necessidade de plantar floresta que não tem retorno nos mercados mas presta serviços ambientais. Essa é uma das nossas lutas na negociação dos fundos comunitários 2014-2020.

Para essa área de um milhão e meio de hectares, há metas estabelecidas para cada uma das espécies?

Quem tem de dizer isso são os planos de ordenamento florestal. Os solos não são iguais. Tudo tem de ser ajustado ao potencial que o solo e o clima têm para as plantas.

Gostaria que houvesse mais áreas protegidas?

A área protegida em Portugal é das maiores na Europa em termos percentuais – temos cerca de 22%. Temos uma boa área com garantias de protecção, queremos aumentá-la, mas não queremos criar um problema de gestão. Não basta dizer: “aqui é proibido”. As pessoas não aceitam e depois contestam.

Os próprios autarcas contestam...

Os autarcas e as pessoas.

Mas há uma animosidade de muitos autarcas contra as áreas protegidas...

Fui reunir-me com os agentes principais do Parque Nacional da Peneda Gerês, onde há conflitos antigos com esse tipo de atitude. E até há quem diga que as pessoas por raiva estragam as coisas, põem fogo, etc. Isto não pode acontecer, eles são os próprios interessados em que isso corra bem. Então temos de lhes dar responsabilidades. Há riscos? Há. Mas também há riscos quando fechamos e bloqueamos o acesso das pessoas a uma partilha. Essas áreas podem aumentar por essa estratégia: os municípios aumentam as áreas protegidas, mas empenham-se e comprometem-se com a sua gestão, directa ou indirectamente.

Tem dito que gostaria de ter uma área protegida em cada concelho. O que está a fazer para ajudar as autarquias?

Estamos a tentar motivar e estamos a ter resultados. Há municípios que começaram a descobrir esta possibilidade. Até aqui tinha de ser feito por portaria governamental e agora é uma simples decisão do município, que pode identificar um valor ou uma área a proteger, definir as regras, classificar e gerir. Cada um há-de entender no seu município qual é a especificidade da área que quer proteger e o que quer fazer dessa protecção, se quer fazer uma coisa mais turística, mais científica ou mais educativa.

Vão dar incentivos concretos às câmaras?

Gostaria que aumentasse o grau de diferenciação positiva para estas situações. Isto pode levar a uma mancha de óleo de preocupações de conservação ambiental, conservação da natureza, de valores rurais. Esses equipamentos têm muitas vezes auto-sustentabilidade económica. Essa estratégia existe noutros países onde organizações da sociedade civil podem ser responsáveis pela gestão de bens protegidos. Nós também queremos fazer isso em Portugal. Por que é que as áreas protegidas não hão-de ter uma partilha de gestão com outras entidades, porque é que há-de ser uma coisa só do Estado?

Já houve várias tentativas, por exemplo, com as câmaras no conselho directivo das áreas protegidas...

Não sei se houve. Estamos hoje a tentar que isto seja uma realidade e até passar equipamentos que estão sob a gestão do Estado para as autarquias ou entidades.

Que tipo de equipamentos?

Dormidas, visitação, as casas dos parques. Estamos a lançar estes desafios aos municípios.

Mas isto era um programa que o próprio Instituto da Conservação da Natureza estava a desenvolver, a recuperação e o aluguer das casas dos parques.

Em alguns sítios, o ICN interveio, recuperou e depois fechou as casas.

E os serviços florestais? Também têm casas espalhadas pelo país inteiro.

Já entregámos várias casas, delegámos a sua gestão a outras entidades que estão na proximidade. E gostaria que isso fosse acelerado, para evitar a degradação de património que está fechado, que tem um aproveitamento inútil. Um exemplo noutro domínio: o dos viveiros florestais e aquícolas. Estamos neste momento num processo de contratualizar com municípios a activação desses espaços para fins pedagógicos, ambientais e para fins de exploração.

Estes equipamentos têm sido entregues para turismo?

Os que estão programados para turismo da natureza podem continuar nessa modalidade. Ou para centros de interpretação ambiental ou para actividades lúdicas ou para apoio por exemplo às associações de caça, que também têm um papel importante no ordenamento florestal.

Existe uma imagem de que o caçador é antinatureza. Qual é a sua opinião?

A caça é uma das actividades mais antigas do mundo e é uma das mais antigas na floresta. Um caçador é obrigatoriamente um bom conservacionista. A caça, se for bem gerida e bem ordenada, é uma actividade perfeitamente enquadradora na exploração da floresta. É por isso que digo que não há conservação possível sem o envolvimento desses agentes. O maior programa em curso, o de reintrodução do lince, só tem possibilidade de ter sucesso se houver um compromisso entre os agricultores, os agentes florestais e os caçadores. A caça tem uma receita potencial muito forte. Há concelhos que vivem muito à custa da caça e dos caçadores.

Sabemos que quer reintroduzir corridas de cavalos urbanas em Portugal. O que é que está na forja?

Portugal e o Luxemburgo são os únicos países europeus onde não há apostas hípicas. É um jogo como outro qualquer. Mas as apostas hípicas [sustentam] o desenvolvimento rural. Portugal tem as melhores condições na Europa de clima, de pastagens e de mão-de-obra para poder ter uma fileira do cavalo forte, que é uma indústria muito potente em toda a Europa. As corridas são um motor económico para justificar o crescimento desta indústria.

Mas nem coudelaria de Alter consegue ser rentável...

Alter é uma peça que pode beneficiar deste sistema. Se a indústria do cavalo ganhar dinâmica por força da implementação do sistema de apostas hípicas, todo o negócio à volta dos cavalos cresce. E inevitavelmente Alter será um pólo beneficiado, apesar dos cavalos que ali estão não serem para este tipo de corridas.

E o que vão fazer?

Vamos alterar [a legislação] para tornar apetecível. Chegou a haver dois concursos no passado, que ficaram desertos, porque as regras não eram atractivas. Não posso neste momento adiantar mais.

As touradas também são importantes?

É outra questão. Fazem parte da nossa cultura, alimentam uma parte também do mundo rural. Não podemos ter preconceitos relativamente a essas tradições, que fazem parte do povo e fazem parte do país.

Fonte

domingo, junho 10, 2012

Vermelho e Negro

João Moura (Toureiro)

A cabeça do "Ferrolho" na parede.
João Moura: Este cavalo foi o cavalo mais célebre que eu tive, e o que mais me ajudou na minha carreia, foi o "Ferrolho".

Mesa feita com as patas do "Ferrolho"
[Narração] Mas tem outras recordações do "Ferrolho", a cauda, a pele, e até das patas fez esta original mesa. Noutra sala tem mais trofeus.

Decoração de outra sala na casa de João Moura.
JM: São touros que toureei em Madrid, onde... cortei-lhe as orelhas que são os máximos trofeus e  que sai pela porta grande.

Jornalista: E matou-os?

JM: Sim, foram mortos em Madrid.

Jornalista:
 E porque é que guarda as cabeças?

JM:
 São... são touros importantes porque sair pela porta grande de Madrid é o sonho de qualquer toureiro.
[Narração] (..) para continuar com a tradição familiar conta agora com o filho de 14 anos.

João Moura Júnior:
  É uma grande responsabilidade...ser filho de uma... uma grande figura... do toureio mundial...é muito custoso... desde pequeno... que... gostei sempre de touros e cavalos, e o meu sonho é... ser toureiro. Estudar até... ao nono ano e... depois começar a tourear...

Jornalista:
 Mais do que o nono ano, não?

JMJ:
 Não...
[Narração] Sónia Matias não tinha na família ninguém ligado às touradas, apesar disso um dia foi ao campo pequeno e gostou tanto que decidiu ser toureira. Tinha 12 anos.

Jornalista:
 O que é que os seus pais disseram?

Sónia Matias (Toureira): 
Que eu não ‘tava bem da cabeça. É mesmo esta a expressão que eles me utilizaram(...)

[Narração]
 Mas apesar do ar feminino, Sónia garante que é tão capaz de tourear como qualquer homem, e conta que até já matou touros das três vezes que actuou a Espanha.

Manuel Gonçalves (Empresário Tauromáquico)
Manuel Gonçalves: Os toureiros é uma classe média/alta, em questão económica.

MG:
 Um toureiro pode ganhar até 10.000 contos por corrida. (...) São... são bem pagos.

[Narração] É o mais antigo empresário tauromáquico português (...) mas diz que os tempos já são como dantes.

MG:
 Neste momento é mais fácil perder 5.000 contos do que ganhar 500 contos. O público é o elemento essencial de qualquer espectáculo. (..) numa praça de touros de 10.000 lugares, estarem lá 1.000... não há ambiente, e o espectáculo morre um bocadinho por isso.

[Narração]
 Numa tourada os touros são os únicos que tudo perdem e nada ganham.

Hélder Queiroz (Forcados do Aposento da Moita)
[Narração] Diz que encara o touro na arena pelo espírito de aventura(...)
Nos grupos de forcados as mulheres também não são bem-vindas.

Hélder Queiroz: (...)Acho que o lugar das mulheres é ‘tarem ao nosso lado... noutro, noutro... separados, acompanharem-nos, ‘tarem connosco no jantar, nos apoiar-nos em casa, darem-nos força, e desejarem-nos sorte, acho que isso é o lugar principal da mulher para os forcados.(...)”

Os touros

[Narração] Sem eles não haveria forcados, nem toureiros, nem tourada, são os actores principais num espectáculo que para eles é sempre uma corrida para a morte.
[Narração] João Moura e o filho praticam quase diariamente com bezerras, esta tem cerca de um ano.
Antes de entrar na arena cortaram-lhe tanto os cornos que o animal não parou de sangrar, e o facto de ser apenas uma bezerra não a impediu de ser cravada com várias bandarilhas durante o treino.
As pessoas ligadas à tauromaquia ficam incomodadas quando se fala em crueldade contra os animais.

MG: “Minha senhora, minha senhora, minha senhora, o touro existe, só e exclusivamente para as touradas, é um animal que existe só para isto!”

Jornalista:
 Não acha que é um espectáculo cruel?

José Pedro Pires da Costa: 
Não, de maneira nenhuma.

Jornalista:
 Não acha que é cruel para com o touro?

JPPC:
 Claro que não!

Jornalista:
 Porquê?

JPPC: 
Porquê? Porque... porque... sei lá, é complicado agora estar a responder...

Jornalista:
 Gostas de animais?

JMJ:
 Gosto... cavalos, de toiros.

Jornalista:
 Achas que gostas de toiros?

JMJ:
 Gosto, gosto de toiros.

Jornalista:
 Mas estás disposto a andar a... a espetá-los. E eventualmente a matá-los.

JMJ: 
Pois, a matá-los também.

Jornalista:
 Achas que isso é maneira de gostar?

JMJ:
 Ah, não sei. Mas é a profissão, tem de ser assim.

Jornalista:
 Nunca teve pena de um toiro?

SM:
 Não [risos] Não, acho que não. [mp3]

Luís Rouxinol:
 O touro é... nasce com... com a finalidade em ser toureado.

João Moura:
 É um touro bravo que é criado só para ser toureado.

Hélder Queiroz:
 Os touros não sofrem naquela altura, podem sofrer mais tarde...

Jornalista:
 Por que é que diz isso?

HQ:
 Porque... essa... a raça desse touro foi lidada para isso, este touro foi criado para isso, não... não... ele foi, a genética dele não faz com que ele sofra dentro da praça...

JPPC:
 As pessoas que não gostam de corridas de touros deviam de se informar, informaracerca do que é uma corrida de touros.

SM:
 Nós somos livres de gostar do que gostamos, só vai à arena quem gosta.

MG:
 Deus criou o Homem e criou os animais, para que os animais servissem o homem, não é para que o homem sirva os animais.

JPPC:
 Não há ninguém que goste mais dos animais do que eu.

A Tourada

[Narração] Dentro dos curros os animais estão agitados, pior estariam se soubessem o que lhes vai acontecer.
Os touros são conduzidos para este pequeno compartimento e imobilizados com um barrote e com cordas, só depois os curraleiros lhes cortam as pontas dos cornos. No final põem-lhes protecções de cabedal. [mp3]
[Narração] (...)numa coisa todos os toureios são iguais nenhum sai para uma corrida sem pedir protecção divina

SM: 
Sempre que venho para as corridas trago estes santinhos que me acompanham, sempre que chego ao hotel a primeira coisa que eu faço é colocá-los, neste caso foi nesta mesinha (...) para depois antes de ir para a corrida fazer as minhas rezas... e quando voltar agradecer.

Jornalista: 
Traz sempre os mesmos?

SM:
 Sim, trago sempre os mesmos. Por vezes tenho... tenho excepções, vou por exemplo, mostrar aqui a nossa senhora dos toureiros que é a Macarena, que é uma das santinhas que eu nunca me esqueço em casa, embora os outros também não esqueça, mas esta é tipo indispensável, também uso na casaca.

[Narração] (..) na praça ninguém quer saber dos sentimentos do touro, e muitos nem imaginam que mal saem da arena os animais têm de passar por outro mau bocado. Voltam a ser amarrados para que os curraleiros lhes retirem as bandarilhas. O director de corrida não nos deixou fazer imagens, alegou que seria demasiado impressionantes para o público. Aqui fica o som do protesto dos touros enquanto os homens lhes cortam a carne para retira a farpa. [mp3]
Entretanto nas bancadas o público vibra com as estucadas dos cavaleiros, mas emoção a sério é quando alguma coisa corre mal.
Duas horas depois a corrida chega ao fim. Todos se saíram bem, forcados e cavaleiros já só sonham com o descanso, e com o banho.

LR:
 (...)Depois daqui corrida vou tomar o meu banhinho e jantar descansado com a minha família.

[Narração] Nos curros, os touros não têm direito a jantar nem a água, nem sequer a um desinfectante que lhe alivie as feridas. Vão ter que esperar que abra o matadouro mais próximo para então serem mortos. Se a corrida for a um sábado só são abatidos segunda de manhã. Às vezes, quando algum touro se destaca pela bravura, o ganadeiro decide poupar-lhe a vida e usá-lo como reprodutor. Mas a verdade é que nenhum dos animais desta corrida mereceu a clemência dos homens.


in “Vermelho e Negro”, reportagem exibida na SIC na semana de 9 de Junho de 2003
Jornalista (e narração da reportagem): Cristina Boavida
Imagem: Odacir JúniorEdição: Marco Carrasqueira

quarta-feira, setembro 28, 2011

A tourada do Miguel Sousa Tavares


Caro Miguel Sousa Tavares,

tenho um filho com 2 anos que está a começar aos poucos a aprender a fazer chichi no bacio.

No outro dia, a minha mulher sentou-o no bacio, na casa de banho, e ausentou-se por uns segundos enquanto o pequenito esperava que o chichi chegasse.

Eu, que estava na sala, comecei a ouvir um barulho que me era familiar, mas que não reconheci de imediato. Levantei os olhos e lá o vi, todo nú, barriga espetada para a frente, a fazer um enorme chichi para o chão da sala.

Não pode ser, não é? Peguei nele, ralhei e levei-o de imediato para a casa de banho, enquanto ele esperneava e estrebuchava por todos os lados. Aquele tipo de comportamento infantil que tanto o incomoda quando está num restaurante, onde ainda por cima já não o deixam fumar em paz, está a ver?

Conto-lhe isto a propósito da intervenção que fez na SIC, no Domingo à noite, sobre o fim das touradas na Catalunha. Creio que disse que era "um caminho da estupidez", comparou com a Casa dos Segredos (essa sim, verdadeira barbárie e selvajaria, disse o Miguel), disse que era falta de cultura querer a abolição, citou pintores espanhóis que pintaram touradas (AH!; se Goya pintou touradas, então está tudo bem!), usou aquele argumento típico que a "espécie" acaba quando acabarem as touradas, chamou ignorantes a quem não gosta delas e que não percebem nada da vida no campo...

Deixe-me só esclarecê-lo um pouco, mas nem me vou alongar muito que não tarda nada tenho uma fralda para ir trocar e isso é mais importante: a espécie Bos Taurus já existia muito antes das touradas e vai continuar a existir. Talvez se referisse a raça, mas também não existe uma raça "touros de morte", porque não cumprem as 3 regras básicas de uma raça: características morfológicas próprias, características psicológias diferenciadores e descrição científica dessas características. O que existe sim, são fundos comunitários. E €2000 por cada touro. Informe-se, não lhe deve ser difícil. E nesse processo, veja quais as raças autóctones portuguesas estão realmente ameaçadas de extinção e ajude também a protegê-las.

Mas talvez tenha razão: torna-se complicado estes animais sobreviverem quando acontece o que aconteceu no outro dia em Idanha-A-Nova, onde a Dir. Geral de Veterinária pediu a ajuda a elementos especiais da GNR para abaterem a tiro centenas de bovinos que pastavam em liberdade, numa herdade de dezenas de hectares, só porque o proprietário não os deixou verificar in-loco se os ditos animais respeitavam todas as regras de saúde pública que o ser humano acha que os animais "selvagens" têm de cumprir.

E depois vem a velha história da liberdade e do "não gostam, não vejam". Como se alguém tivesse alguma vez perguntado ao touro se ele queria ser retirado do seu habitat, enfiado numa camioneta durante horas (onde perde 10% do seu peso), ficar fechado outras tantas horas na praça de touros, ver as pontas dos seus cornos serem serradas a frio, ser picado, torturado, ficar sem comer nem beber e depois ser lançado numa praça, rodeado de gente aos berros que berra ainda mais de cada vez que um ferro de 4cm lhe perfura a carne. Não senhor, não gosto e não vejo. E assim como não fico de braços cruzados ao ver o meu filho fazer chichi no meio da sala, também não posso ficar perante a barbárie e a tortura gratuita a um animal.

No seu caso, vê-se que fica irritado por lhe limitarem a liberdade. Mas o seu discurso, a mim, faz-me lembrar o meu filho. Até parece que vejo o Miguel Sousa Tavares em pequenino, o Miguelito, de calções e meias até ao joelho, deitado de costas no chão, a espernear e a estrebuchar, porque não deixam o menino ver a tourada.

Mas olhe Miguel, vá-se preparando, porque com birra ou sem birra, esse dia há-de chegar.

PS- é mais que justo que deixe aqui um link para as suas declarações:
Proibição de touradas: "É o caminho da estupidez"
Até porque a causa anti-taurina precisa de mais momentos destes.