segunda-feira, outubro 24, 2011

O Aficionado Pablo Picasso


Muitas vezes os aficionados do Massacre de Touros, para justificar a afición deles, dão-nos exemplos de gente famosa, que foram grandes admiradores desse espectáculo primitivo, pensando com isso livrarem-se do peso de uma culpa que sabem que carregam mas não admitem.

Um dos exemplos que dão é Pablo Picasso. Grande aficionado desde criança, quando o habituaram a aplaudir a violência dos massacres de Touros..

Ora eu sempre achei que por detrás de um aficionado estaria algo que não bate certo. Os famosos, lá por serem famosos, também têm as suas taras. Por vezes, taras muito maiores do que o comum dos mortais. Isto é do domínio público. Toda a gente sabe disto, ou as revistas cor-de-rosa não venderiam tanto.

Este fim-de-semana ao ler uma revista apensa a um jornal semanal de grande tiragem (não lhe vou fazer propaganda, porque quando preciso também não ma fazem), li algo surpreendente sobre Picasso. Algo que eu intuitivamente já sabia. Só podia ser.

As palavras são de uma mulher que viveu com ele (a única que está viva e a única, das muitas que teve, que o abandonou para não ser esmagada pelo “génio”, assim como as outras foram. Por isso as suas palavras são credíveis. Não partem de um sentimento de rejeição.

Françoise Gilot é nome de mulher e de artista plástica.

Sobre o homem com quem viveu entre 1943 e 1953, Gilot diz que ele tinha umatendência sádica, pediu-lhe que lesse as obras do marquês de Sade, assim como o pediu às outras suas mulheres. Só que Gilot respondeu-lhe que não, e refere: «Disse ao Pablo que a crueldade do Marquês de Sade estava por toda a parte naquela guerra (a 2ª Grande Guerra), não precisava ler mais sobre isso».

Retenho aqui a ideia “tendência sádica” e a palavra “crueldade”.

Mais adiante, Gilot refere: «Picasso mentia (às mulheres com quem viveu) a todas continuamente, para as manter em órbita em volta dele, de uma forma perversa e possessiva».

Deste parágrafo retenho a expressão “forma perversa e possessiva”.

Sobre um filho de um dos casamentos de Picasso, Gilot contou: «Picasso nunca quis que o filho chegasse a ser alguém; rebaixava-o, transformando-o no seu motorista (Picasso não conduzia).

Quando foi viver para o sul de França, Paulo (o filho) levava-nos normalmente às touradas, a que Picasso adorava assistir porque para ele a vida era uma corrida,uma luta sangrenta até à morte. Ele identificava-se com todas as personagens na arena, inclusive com o touro».

Daqui retenho “rebaixar o filho” e “para ele a vida era uma corridauma luta sangrenta até à morte”.

Numa outra parte da entrevista, Gilot diz que o comportamento de Picasso podia ser muito primitivo. Salienta ela: «Pablo tinha a curiosidade primária de uma criança que pega num relógio e o destrói para ver o que está lá dentro.»

Daqui retiro o “comportamento de Picasso podia ser muito primitivo ”.

Segundo Gilot, o comportamento de Picasso tornava-se cada vez mais injusto e cruel, aumentando-lhe a preocupação sobre os efeitos que isso poderia ter nos filhos que ambos tiveram (Claude e Paloma).

Mantinham uma relação familiar do género: Picasso era um “deus”, a mulher e os filhos “seres humanos”.

Bem, daqui retiro as palavras “injusto”, “ cruel” e “deus”.

Diz Gilot que Picasso tinha-se vangloriado junto dela dizendo que gostava de fazer sofrer as pessoas que o amavam. «Só sou desagradável para as pessoas que amo. Para as pessoas que não me interessam sou simpático», dizia Picasso.

O que poderemos concluir deste retrato psicológico de Picasso?

O protótipo do aficionado. Dos aficionados de todos os tempos. Já Nero era assim, por isso, o seu nome está ligado às maiores barbaridades cometidas em arenas.

O que tento provar com este texto é que por detrás de um aficionado está, sem a menor dúvida, alguém que tem comportamentos “estranhos”, que fogem à normalidade. É uma questão de esmiuçar a vida dessa pessoa.

Por isso, quando um aficionado quiser dar exemplos de gente famosa adepta de Massacres de Touros, certifique-se primeiro, de que o “exemplo” que pretende dar é uma pessoa com comportamentos sociais normais.

Lembrem-se de que os famosos também têm as suas pancas.

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