terça-feira, fevereiro 15, 2011

O desafio de dispensar a carne e se entregar ao vegetarianismo

Para aderir, o segredo está na disciplina e na busca dos nutrientes necessários.

Novo Hamburgo - Seja por motivos religiosos, pela busca de uma vida mais saudável ou pela preservação da fauna, muita gente tem deixado de se alimentar com produtos de origem animal – leia-se carne vermelha, de aves, peixes e seus derivados. Os vegetarianos se abstém apenas do consumo de carnes enquanto que os veganos são conhecidos por excluírem de sua rotina também os laticínios, ovos, mel, gelatinas e artigos feitos em couro.

Há casos como o do consultor Luiz Jacintho, que segue a dieta vegetariana há 50 anos, numa experiência que, segundo ele, tem dado certo. Mas para repetir esse exemplo bem sucedido é preciso tomar alguns cuidados. A nutricionista Mônica Schneider alerta sobre a necessidade de uma alimentação equilibrada. "O ser humano precisa de proteínas, carboidratos e gorduras na devida proporção à sua faixa etária", explica. Conforme Mônica, um adulto saudável que deseja adotar o vegetarianismo deve ser orientado sobre as substituições necessárias para suprir a ausência dos nutrientes contidos nos alimentos de origem animal.

NUTRIENTES
A nutricionista Ana Harb salienta que adeptos do vegetarianismo podem, de fato, conquistar benefícios para a saúde. "Eles têm menor nível de colesterol, menores taxas de mortalidade por doenças cardiovasculares, menor índice de obesidade, menor incidência de alcoolismo, constipação, câncer de pulmão e diabetes", afirma. E ela acrescenta que uma dieta bem planejada pode suprir a maioria dos minerais, vitaminas, carboidratos, lipídios e proteínas exigidos pelo organismo.

Porém, Ana também observa que é preciso tomar cuidado, pois os vegetarianos não abdicam apenas de comer carne. Eles também abrem mão de nutrientes importantes e, por este motivo, devem estar atentos à quantidade de proteínas e calorias ingeridas diariamente, evitando problemas como desnutrição e anemia. "Quando a dieta não é balanceada e a alimentação é muito restrita, pode ocorrer o surgimento de deficiências nutricionais", explica.
Antes das mudanças alimentares é preciso buscar orientação. A dieta vegetariana não é recomendada, por exemplo, para crianças e adolescentes, porque nessa idade a fisiologia encontra-se em desenvolvimento. "Se houver a real necessidade desta conduta alimentar, é interessante que a família seja acompanhada por um profissional competente, que irá indicar as devidas substituições e irá monitorar os níveis sanguíneos e a quantidade de ácido fólico e vitamina B12", conclui Mônica.

Cinco décadas

Há 55 anos, o consultor Luiz Jacintho (foto) pegou emprestado do amigo, o artista plástico Ernesto Frederico Scheffel, um livro sobre alimentação naturalista. Os argumentos do autor, um médico italiano, fizeram com que Jacintho refletisse sobre seus hábitos alimentares. "O doutor comparava carnívoros e herbívoros. Os carnívoros têm presas para rasgar a carne e começar a digestão, os herbívoros não", explica.

Conforme Scheffel, as leituras influenciaram Luiz Jacintho. "Eu entro como ponte, porque emprestei o livro ao Luiz. Como, na época, eu almoçava na casa do estudante do Rio de Janeiro, não tinha como seguir a dieta. Devo dizer que nós todos deveríamos ser preparados nesse campo", argumenta Scheffel que, mesmo não seguindo a dieta vegetariana, valoriza uma alimentação saudável.

Depois de ler a obra, Jacintho ficou predisposto a se tornar um vegetariano. "Todos me diziam que o médico italiano e eu estávamos loucos. Falavam que não era possível e que ninguém poderia viver sem carne", lembra. Mas foi nesse momento que Luiz Jacintho conheceu um vegetariano de Novo Hamburgo. "Conversei com esse senhor, que era funcionário dos Correios, e ele me disse que não ingeria carnes há anos", comenta.

Mas foi em um restaurante que o consultor decidiu abandonar de vez a carne. "Pedi um bife a pé. Quando trouxeram o prato, cortei a carne, olhei, coloquei de lado e disse para a minha esposa: a partir de agora, vou até o fim com a experiência", conta.

A decisão completará 50 anos na terça-feira, 15. Neste dia, Jacintho pretende reunir 50 amigos para homenageá-los e comemorar a data. Aos 83 anos de idade, o consultor afirma que a saúde está em dia. "Acredito que só tenha ganhado com essa decisão", diz.

Luiz Jacintho excluiu das refeições somente carnes. A alimentação balanceada faz parte da rotina de Jacintho. No café da manhã, ele ingere iogurtes, frutas e fibras. "Não como nada que voa, nada que nada e nada que anda", finaliza.

O segredo

O segredo dos vegetarianos está em alcançar a quantidade de nutrientes que o corpo exige, sem a ingestão de carnes, através de combinações de inúmeras fontes. Por isso, após a adoção da dieta, o ideal é fazer a compensação dos alimentos que foram excluídos das refeições. Essa substituição deve contemplar o equilíbrio do plano alimentar. Leguminosas, cereais, frutas, legumes e laticínios ajudam neste reparo.

"Caso a dieta não inclua leite e seus derivados, o ideal é ingerir vários tipos de legumes verdes, como brócolis, couves, espinafre, de modo a incluir alimentos que são fontes de cálcio e ferro na alimentação diária", explica a nutricionista Ana Harb.

Enquanto a dieta ovolactovegetariana, que permite a ingestão de ovos e derivados do leite, pode ser adotada sem risco significativo, uma dieta vegetariana radical apresenta ameaças de deficiência nutricional. "Torna-se essencial uma monitorização rigorosa e a correção de qualquer insuficiência, sempre com o acompanhamento de um especialista", conclui Ana.

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