segunda-feira, julho 26, 2010

Os homens, os animais e as touradas

Por Mário Nunes

Este texto não será agradável de ler para os aficionados das touradas. Todavia, é o nosso contributo solidário para aqueles que estão com os animais, neste caso, os touros, e contra os espetáculos taurinos em recintos fechados onde acontece o sofrimento e a morte com extrema dor.
Foi originado pela leitura do artigo do Prof. Doutor Paulo Varela Gomes, no jornal Público. Uma análise reflexiva e pertinente daquele docente, face à iniciativa do Ministério da Cultura em criar uma secção de tauromaquia no Conselho Nacional de Cultura a pretexto de que lidar touros seria uma tradição cultural portuguesa a preservar, sugeriu a nossa opinião de hoje.

Nós, defensores dos animais, não podemos estar mais de acordo com o articulista, aplaudimos e acompanhamos, também, a grandeza humanística dos participantes da Associação Animal, que se manifestaram, em Lisboa, contra a “barbárie” das touradas, bem como nos congratulamos com as sugestões/exigências dos defensores dos animais, na Lousã, para se promover a sua proteção por parte das entidades oficiais. Estaremos, sempre e em qualquer lugar, com todos aqueles, individual ou em associações, que fomentam ações e atitudes de defesa do bem-estar dos seres que estão à mercê das ofensas físicas e de outro género sem se poderem defender. Sublinhamos a recente constituição, na Suíça, de uma entidade que zela, juridicamente, pelos direitos dos animais.

Voltando ao assunto das touradas e ao sofrimento que causam aos touros, e relacionando a indignidade da morte nas condições horrendas em que ocorre, em que a crueldade e os maus tratos físicos atingem o rubro, com a utilização de ferros que ficam agarrados ao corpo e de outras barbaridades, antecedidos de outras ações antes de serem lançados nas praças de tourear, provocam-nos atitudes de fastio e de revolta interior. Como se pode delirar com a dor e a morte naquelas circunstâncias?

Recuando à época romana em que homens e animais se confrontavam numa luta de morte para gáudio de milhares, que rejubilavam de prazer com o decorrer do confronto, vendo correr sangue, ferir sem piedade, despedaçar os corpos e aplaudindo loucamente o vitorioso, todos sabemos que constituía um espetáculo mórbido e de entretenimento numa sociedade em que o escravo era uma coisa e a sua morte, cruel ou não, um ato normal. Mas, se a escravatura foi abolida no século XIX e se se promulgaram os direitos dos animais, porque se praticam, hoje, em nome da tradição, tão atrozes sofrimentos e indignas mortes?

O leitor já refletiu na aflição, na impotência, na angústia e no sentir a morte de um animal, que atirado para um recinto fechado, indefeso, acossado de todo o lado, quer com a vozearia dos assistentes, quer pelos ferros cravados por cavaleiros que a cada movimento mais ferem a carne, quer as capas que lhe são lançadas aos olhos, seja pelo embate, apertadela e arrastamento pelas pegas dos forcados e, ainda pelo calor em tardes de sol tórrido com o pó a toldar mais o cenário de sangue e dor?

Argumentam os apaixonados pelas touradas que há valores económicos, há espetáculo, preserva-se a tradição e fomenta-se a destreza, a coragem e a arte de tourear. Porém, como se compagina a morte com o atroz sofrimento e o direito elaborado pelo homem?

Estranhamos, que numa época e numa sociedade que tanto apregoa os direitos humanos e dos animais, se continuem a praticar ações do género das touradas, das lutas de cães, de galos, de vacas e de outras semelhantes, esquecendo que o sofrimento e a morte horrível têm limites e dignidade. Sejamos defensores dos animais e saibamos retribuir-lhes o bem que nos proporcionam e o carinho que nos dedicam. Homem sede homem. Estamos no século XXI e não nas épocas da escravatura.
Fonte: O Despertar

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