quarta-feira, junho 16, 2010

Vegetarianismo em Portugal um Século de História

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Ao contrário do que se possa pensar, o vegetarianismo não é uma tendência recente no nosso país, pois tem já, pelo menos, um século de história.
A primeira referência, actualmente conhecida, à divulgação do vegetarianismo em Portugal, remonta ao início do século XX (provavelmente 1908), com a criação da Sociedade Vegetariana de Portugal, fundada na cidade do Porto, pelo Dr. Amílcar de Sousa, e situada na Avenida Rodrigues de Freitas.
Essa mesma associação criou, em 1909, a revista “O Vegetariano”, designada por mensário naturista ilustrado, e dirigida pelo Dr. Amílcar de Sousa, um médico especializado em dietética e nutrição. A revista durou pelo menos até 1915.
A publicação apresentava além de variados artigos, ilustrados com fotografias de crianças e adultos vegetarianos, receitas vegetarianas e anúncios relacionados com a filosofia da revista. Publicitava-se comércio de fruta, pão integral, vinho sem álcool e outros alimentos naturais, consultórios de médicos naturistas, termas e estâncias naturistas. Num dos anúncios, de uma edição de 1914, vê-se menção a uma “Maison Végétarienne”, apresentada como um restaurante dietético com regime vegetariano, situado em Lisboa na Avenida da Liberdade. Numa outra publicidade na mesma edição, apresenta-se o “Grande hotel Frutí-Vegetariano. Único estabelecimento do género em Portugal”, situado na cidade do Porto na Rua dos Caldeireiros, onde se faziam tratamentos naturistas e serviam refeições vegetarianas.
Internacionalmente, em Maio de 1911 a revista já era conhecida. A edição da revista Vegetarian Messenger (revista publicada no Reino Unido, desde 1849 até 1953) dessa mesma data, menciona a revista portuguesa O Vegetariano. O Vegetariano era ainda enviado para alguns assinantes no Brasil e em países africanos (Angola e Cabo Verde).
A Sociedade Vegetariana de Portugal foi ainda responsável pela publicação de dezenas de livros (algumas traduções de autores estrangeiros) dedicados a um modo de vida mais saudável. A tónica nesses livros, assim como nos artigos publicados na revista, está nas razões de saúde e nas sociais (fome no mundo, por exemplo). Pouco se fala ainda de defesa animal ou ecologia. Alguns desses livros publicados foram: “O Vegetarianismo e Fisiologia Alimentar”, de H. Collière; “Dieta Frugívora e Renovamento Físico”, de O. L. M Abramowshi; “O Naturismo”, de Amílcar de Sousa; “O Vegetarianismo e Moralidade das raças”, de Jaime de Magalhães Lima; “A Cura da tuberculose pelo vegetarianismo”, de Paul Carton; “Parto sem Dor”, de William Taylor; “O Homem é Frugívoro”, de Ardisson Ferreira.
Numa edição da revista de 1914, refere-se a existência de 3289 sócios na associação!
Este movimento em favor do vegetarianismo, que se registou na cidade do Porto nas primeiras duas décadas do século XX, teve como impulsionadores médicos de renome e personalidades da burguesia portuense, adeptos de uma alimentação vegetariana e da saúde natural.

A partir da Sociedade Vegetariana de Portugal, no Porto, nasceram outros grupos de naturistas. O núcleo que se fixou em Lisboa tomou a denominação de Sociedade Naturista Portuguesa e oficializou-se a 13 de Outubro de 1912. Os principais membros fundadores da associação foram Luciano Silva e o Dr. Roberto Neves, e na época tinha 200 sócios. Por volta dos anos 30, o nome foi alterado para Sociedade Portuguesa de Naturalogia, que anos mais tarde se tornaria membro da União Vegetariana Europeia (EVU). Entre outros, um dos objectivos da SPN sempre foi a promoção do vegetarianismo, tendo para isso também criado nos anos 60 do século XX uma cantina vegetariana para os seus sócios. Esta associação criou também a revista “Vida Sã” que ainda hoje existe e é distribuída gratuitamente. A SPN mantém-se em actividade até aos dias de hoje com sede na Rua do Alecrim, nº 38 - 3º, em Lisboa.

No Congresso Mundial
 Vegetariano da União Vegetariana Internacional (IVU), realizado em 1923, na cidade de Estocolmo, Suécia, Portugal fez-se representar pela primeira vez, pelo capitão António Carvalho Brandão,
No Congresso de 1926, realizado em Londres, Inglaterra, ficou registado o nome do Dr. Bentes Castelo Branco, que expôs igualmente um tema. Até 1950 não existem mais alusões a Portugal nos vários Congressos da IVU.
Só em 1960 é mencionada a Sociedade Portuguesa de Naturalogia. No Congresso da IVU em 1960, realizado em Hannover, Alemanha, foi nomeado como vice-presidente em representação de Portugal, o Dr. Ângelo da Costa Cabral.
Noutro Congresso, realizado em 1964, foi aprovada como afiliada da IVU, a Ordem Esotérica Iniciática de Lisboa (associação que entretanto parece ter sido extinta). E desde 1992, Portugal não teve mais representantes nos Congressos da IVU.

Nos anos 60, aconteceram desentendimentos e deu-se a ruptura entre a SPN e um grupo grande de sócios que saiu da Sociedade e fundou a Associação Vegetariana Portuguesa. Mais tarde a direcção da SPN mudou e, nos anos 80, as duas associações tinham tão boas relações que se juntaram novamente, e como a SPN tinha mais sócios do que a AVP, esta última fundiu-se na sociedade "mãe", sendo a denominação AVP dada como extinta às autoridades competentes.

Na última década do século XX muitos ecologistas e organizações defensoras dos animais começaram campanhas para informar as pessoas sobre as vantagens de uma dieta vegetariana ou vegana. Estas campanhas foram dirigidas principalmente aos jovens, e foram de algum modo efectivas. Muitos estudantes tornaram-se, não apenas vegetarianos, mas também activistas.
Embora durante os últimos anos do século XX, tenha havido bastantes activistas nas principais cidades, e algumas páginas web pessoais, só em 2001 surgiu um projecto de divulgação e promoção do vegetarianismo, a nível nacional: galaxia-alfa.com. Um projecto web que continua mantido pelos fundadores e outros voluntários. Por ocasião do seu quarto aniversário, alterou, contudo a sua designação: de Galáxia Alfa passou a designar-se Centro Vegetariano. As actividades do Centro Vegetariano são desenvolvidas principalmente na ou através da Internet, e incluem: publicação de artigos e receitas; envio de boletins periódicos; esclarecimento de dúvidas dos visitantes; e manutenção de uma loja com produtos veganos seleccionados. O Centro tem também diversos livros publicados, informativos e de receitas.

Em Março 2004, surgiu no mercado a revista mensal Cozinha Vegetariana, lançada pela editora Presspeople e com uma tiragem de 30.000 exemplares. A revista publicava cerca de duas dezenas de receitas, assim como algumas informações relacionadas com um modo de vida mais saudável. Esta publicação tornou acessível ao grande público a culinária vegetariana. A partir de Julho de 2006, passou a designar-se Cozinha Saudável e Vegetariana, deixando durante alguns meses de contemplar apenas receitas vegetarianas; embora mais recentemente tenha novamente começado a publicar receitas exclusivamente vegetarianas.
Em Julho de 2004, apareceu também a revista Cozinha Natural, da editora Mercuriana, com uma tiragem de 10.000 exemplares. Esta revista contempla receitas vegetarianas, veganas e macrobióticas. Embora não tenha tido a pujança inicial da revista Cozinha Vegetariana, esta tem alargado o seu leque de mercado e continua a crescer.

A partir de 2002, alguns activistas tentaram fundar uma nova associação vegetariana, sendo que a iniciativa mais promissora está agora na sua fase inicial. Foi fundada recentemente a Associação Vegetariana Portuguesa. Esta Associação foi oficializada no final de 2006, mas tem vindo a promover actividades desde 2004.

Em suma, o vegetarianismo em Portugal está a renascer rapidamente, com novos restaurantes vegetarianos a abrirem e muitos dos tradicionais a oferecerem opções vegetarianas. Entretanto, nos últimos anos, foram também criadas várias empresas com oferta de produtos vegetarianos, sobretudo alimentos. Muitas associações e empresas têm também levado a cabo a realização de eventos (feiras, palestras, workshops de cozinha vegetariana) relacionados com o vegetarianismo, respondendo assim ao crescente interesse pelo assunto.
A história do vegetarianismo em Portugal continua a escrever-se, uma vez que, tal como há um século atrás, o interesse por esta alimentação e estilo de vida mantêm-se. E, actualmente, devido ao novo contexto social, cultural e económico, as motivações são ainda mais para aderir ao vegetarianismo, e a transição de um regime alimentar com produtos animais para um regime sem produtos animais está também mais facilitada e acessível a todos.


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Vegetarianismo: Estudo revela que há 30 mil vegetarianos em Portugal

Estudo pioneiro concluiu que são mais de 30 mil os portugueses que seguem algum tipo de dieta vegetariana.
O tempo em que ser vegetariano causava estranheza já faz parte do passado. Agora há mais informação, mais escolha, mas ainda permanecem alguns mitos e preconceitos.
Vegetarianismo
O vegetarianismo é um regime alimentar baseado essencialmente no consumo de alimentos de origem vegetal. Os vegetarianos são pessoas que decidem deixar de comer carne ou peixe, ou qualquer outro produto de origem animal.
Um estudo realizado pela empresa de sondagens Nielsen para o Centro Vegetariano (em 2008) deu indicações não só sobre o número de vegetarianos em Portugal, mas também sobre as classes etárias e o sexo dos maiores seguidores destes hábitos alimentares. O estudo avança com 30 mil como sendo o número de portugueses vegetarianos.
Segundo o estudo, realizado em Outubro do ano passado, 5% da população portuguesa exclui da sua dieta uma das seguintes categorias alimentares tradicionais: carne, peixe, lacticínios ou ovos. Há ainda a salientar o facto de os mais velhos, entre os 55 e 65 anos, serem os que menos consomem carne e lacticínios, enquanto as mulheres ganham no consumo de lacticínios e estão nos postos mais baixos no que toca ao consumo de carne e ovos.
Quanto às zonas do país a destacar, encontra-se a Grande Lisboa e o Litoral Norte como as regiões onde menos se consomem carne e ovos.
Os dados deste estudo podem, no entanto, estar longe do valor real de pessoas que se afirmam vegetarianas, uma vez que não inclui aqueles que se dizem vegetarianos, mas que continuam a consumir peixe. “Se perguntássemos apenas se a pessoa é vegetariana, se calhar o número tinha sido um pouco maior”, afirma Cristina Rodrigues, directora do Centro Vegetariano.
                                                              

 Vários vegetarianismos

Cornucopia Do OutonoEntre os vegetarianos destacam-se quatro tipos diferentes. Os veganos, que são os mais radicais, pois não só excluem os produtos de origem animal da sua dieta, como também do seu guarda-roupa, da sua higiene pessoal e doméstica e da sua agenda, não visitando circos ou jardins zoológicos.
No entanto, há também os ovo-lácteo-vegetarianos, que eliminam a carne e o peixe, mas não cortam definitivamente com outros produtos de origem animal, como os ovos e o leite e seus derivados. Há ainda aqueles que simplesmente eliminam os ovos e são lacto-vegetarianos e os que eliminam o leite e consomem ovos, que são ovo-vegetarianos.
O ponto comum entre estes diferentes tipos é, segundo Cristina Rodrigues, o facto de todos os vegetarianos rejeitarem o consumo de alimentos ou produtos que “impliquem a morte do animal”.
              stock photo : Pepper, carrot, cabbage, fennel, parsley, onions, beet          stock photo : Bitten Red Apple           stock photo : Fresh Vegetables, Fruits and other foodstuffs. Shot in a studio.
 Por muito tempo o vegetarianismo esteve associado a movimentos místicos e seitas. Somente em anos mais recentes este hábito alimentar tem perdido um pouco de sua aura mística e tem sido objeto de estudos científicos. As bases do vegetarianismo encontram-se fundamentadas na ciência da nutrição e na ecologia e seus benefícios são diariamente confirmados pelos diversos ramos da medicina

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