domingo, maio 30, 2010

Mercado vegetariano está em expansão mas oferta ainda é escassa

"Tofu", "seitan" e "kefir" são palavras que se tornaram banais no vocabulário de muitos portugueses. O mercado de alimentação vegetariana está em expansão, mas o interesse dos consumidores por estes produtos nem sempre é acompanhado pela diversidade de oferta.

Tiago Sousa, director comercial da Provida, a empresa de alimentação vegetariana mais antiga do país, salienta que a procura por este tipo de produtos alimentares tem crescido nos últimos anos, sobretudo nas grandes superfícies. Mas a oferta dos supermercados ainda é escassa e pouco diversificada. "As lojas especializadas têm mais espaço e conseguem ter mais produtos", compara.

A Provida produz e comercializa os "dois principais pilares do vegetarianismo", tofu (queijo de soja) e seitan (derivado de glúten), bem como produtos transformados à base destas matérias-primas. Os vegetarianos são apenas um dos públicos-alvo daquela empresa, já que "há um forte interesse por parte dos não-vegetarianos", de "pessoas que apostam na diversificação da sua dieta alimentar e reconhecem os benefícios de não comer tanta carne", reconhece Tiago Sousa.

"Depois há os convictos, os verdadeiros vegetarianos, mas este é um nicho de mercado muito mais pequeno", especifica. "Ainda há quem pense que esta é uma alimentação esquisita, sem sabor. É preciso desmistificar estas ideias, porque se estes alimentos forem bem cozinhados são tão saborosos como os outros", defende.

A Ad Naturam é a mais recente empresa a entrar neste mercado e aposta no fornecimento destes produtos para hotéis, restaurantes e catering. "A hotelaria e a restauração convencional já não podem dispensar esta alternativa, há muitos clientes que o exigem", justifica o director administrativo da empresa.

Gil Monsaraz acredita que as grandes superfícies já se aperceberam deste potencial e que o mercado vai continuar a crescer. "Sei que já há grandes superfícies que procuram produtores para lançarem marcas próprias", adianta. Mas a falta de conhecimentos sobre a maneira de confeccionar estes alimentos, sobretudo por parte dos não-vegetarianos, ainda trava a sua comercialização.

"Às vezes as pessoas compram tofu ou seitan, mas depois [os pratos] não resultam bem porque não sabem cozinhar", reconhece Gil Monsaraz. O projecto da Ad Naturam é ambicioso e passa pelo cultivo de soja "para consumo próprio da fábrica", acrescenta. "É a alimentação do futuro", resume este vegetariano há dez anos e pai orgulhoso de filhos que "nunca comeram animais".

Ireneu Vicente concorda que a adopção deste regime está actualmente muito facilitada. "Hoje em dia só não é vegetariano quem quer", considera o representante da Associação Vegetariana Portuguesa.

Cristina Rodrigues, do Centro Vegetariano, partilha desta opinião, e lembra que "agora a maior parte dos hipermercados tem produtos vegetarianos". O interesse também se manifesta através do boom de restaurantes vegetarianos, alimentados pelos não-vegetarianos, e da procura de cursos de culinária específicos.

Mas, se em Lisboa e no Porto é possível encontrar produtos e serviços dirigidos a estes consumidores, fora dos grandes centros urbanos não é fácil encontrar alternativas. Num inquérito online do Centro Vegetariano, 52 por cento dos inquiridos consideraram que a oferta de produtos vegetarianos em supermercados é "insuficiente" e 63 por cento disseram o mesmo da oferta disponível na Internet. Só no caso das lojas especializadas a diversidade de produtos satisfazia os inquiridos.

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