segunda-feira, abril 19, 2010

Dia Mundial do Animal de Laboratório

Segundo dados oficiais da Direcção-Geral de Veterinária cerca de 40 mil animais são usados anualmente para experimentação e fins científicos em Portugal. Em todo o mundo estima-se que cerca de 100 milhões de animais sejam torturados e mortos com uma crueldade extrema anualmente em laboratórios. A 24 de Abril assinala-se o Dia Mundial do Animal de Laboratório. 


40 mil são anualmente usados para experimentação em Portugal

Cerca de 40 mil animais são usados anualmente para experimentação e fins científicos em Portugal, segundo dados oficiais da Direcção-Geral de Veterinária, mas a associação ANIMAL desconfia que haja uso de alguns animais sem conhecimento das autoridades.

"Esses são os dados oficiais, mas suspeitamos que muitos mais sejam usados", declarou à agência Lusa Miguel Moutinho, responsável da associação ANIMAL, em vésperas do Dia Mundial do Animal de Laboratório, que se assinala terça-feira.
Segundo dados fornecidos à agência Lusa pela Direcção-Geral de Veterinária, em 2004 foram utilizados 41.621 animais para fins experimentais ou outros fins científicos e em 2005 foram usados 39.673.
Em todo o mundo estima-se que cerca de 100 milhões de animais sejam usados anualmente em laboratórios, entre 10 e 11 milhões dos quais na União Europeia.
Desses 10 a 11 milhões, estima-se que 10 mil sejam primatas, uma situação que a ANIMAL gostaria de ver proibida por uma nova directiva europeia.
"A directiva está a ser revista e pretendia-se que proibisse a utilização de primatas na investigação, mas os `lobbies` da pesquisa científica são muito fortes e será difícil consegui-lo", reconheceu Miguel Moutinho.
"Os próprios pesquisadores conseguem mais depressa bolsas de investigação quando usam animais, porque quando não envolvem métodos com animais duvida-se da qualidade desses projectos", acrescentou.
Para a ANIMAL e para as congéneres europeias, o recurso a primatas "não tem levado a humanidade a parte alguma", daí que a associação defenda a proibição do seu uso para experimentação.
Em Portugal não há oficialmente uso de primatas para fins científicos, mas a ANIMAL diz ter "sinais" de que isso acontece de forma "hiper-secreta", apesar de a associação admitir não ter muitos dados para "consubstanciar essa suspeita".
Oficialmente, os investigadores portugueses usam essencialmente ratos, roedores, ovelhas, cavalos e burros.
"Mas muitos pesquisadores avançam primeiro com os projectos antes de pedirem a obrigatória autorização da Direcção-Geral de Veterinária. Não quer dizer que isso seja uma actividade ilegal, mas não é licenciada", referiu Miguel Moutinho.
O Instituto Tecnológico e Nuclear (ITN) é um dos muitos locais licenciados para fazer investigação científica com animais em Portugal.
Usando ratos de diferentes dimensões, o objectivo desta investigação é desenvolver sondas que permitam fazer um diagnóstico precoce de algumas patologias (como cancro da mama, da pele ou doenças neurodegenerativas) e ainda encontrar compostos radioactivos que permitam uma terapia o mais selectiva possível de forma a minimizar os efeitos secundários.
A equipa do ITN está a desenvolver fundamentalmente sondas para imagiologia molecular, que possam ser usadas, por exemplo, ao nível da medicina nuclear.
De acordo com Isabel Santos, responsável da equipa química radiofarmacêutica do ITN, primeiro são feitos estudos com células relacionadas com as patologias em análise e depois é que se passa à fase da experimentação animal.
"A experiência animal é necessária. Antes de passar para a experiência humana é preciso estudar o que se passa em sistemas vivos, já que os estudos com células não traduzem completamente a realidade dos sistemas vivos", justificou Isabel Santos em entrevista à Lusa.
A responsável referiu ainda haver casos de estudos "com óptimos resultados em ratos, mas que em humanos não funcionaram".
Lurdes Gano, farmacêutica que habitualmente lida com os ratinhos do ITN, encara a experimentação animal como "um mal necessário".
"Quando um produto é promissor enquanto fármaco, tem de ser garantida a sua segurança, qualidade e utilidade antes da administração aos pacientes", explicou esta técnica, que garante que o "bem-estar animal é tido em conta".
"Os animais criados para este fim são mantidos nas melhores condições (humidade, temperatura, luz e ruído) e as pessoas que lidam com eles respeitam as condições do seu bem-estar. Estes animais estão em condições de habitabilidade que muitas pessoas não têm", comentou Lurdes Gano.

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