domingo, maio 17, 2015

"As plantas também sentem dor"



Qualquer Vegano já terá encontrado no seu percurso de vida alguém não-vegano que tenha cuspido esta preciosidade...

Afinal, o que é a "Dor"?
A Dor é um fenómeno multidimensional, envolvendo aspectos físico-sensoriais e aspectos emocionais.
De acordo com a IASP (International Association for the Study of Pain): "Dor é uma experiência sensorial e emocional desagradável associada com danos reais ou potenciais em tecidos, ou assim percepcionada como dano.
Nota: a incapacidade de comunicar verbalmente não exclui a possibilidade de que um indivíduo esteje a experienciar dor e a necessitar tratamento para alívio da mesma.
A dor é sempre subjectiva e cada indivíduo aprende o uso da palavra dor através de experiências relacionadas com traumatismos no início da sua vida.
Os cientistas verificam que os estímulos que causam dor causam provável dano nos tecidos.
Assim, dor é a experiência que associamos à real ou potencial dano nos tecidos. É de forma inquestionável uma sensação em parte ou partes do corpo, mas é também sempre desagradável, e consequentemente também uma experiência emocional."
Para além de que a expressão "As plantas também sentem dor" seja uma locução errada, quanto ao que a Ciência empiricamente consegue obter resposta, é também irrelevante.
- - Alto! - Porquê errada!?
Porque a comunidade científica nunca conseguiu atribuir a característica "dor" ao reino vegetal, nem se avizinha que o seja possível fazer.
Sim, já se verificou que as plantas reagem mecanicamente de variadas formas a estímulos externos, tais como quando estão a ser comidas por insectos, quando detectam a presença de insectos nas suas armadilhas para insectos, quando recebem a luz solar pela manhã, e até quando estão a arder - acção/reacção.
Mas passar de uma "reacção a estímulo externo", uma reacção mecânica, a "sentir dor", vai todo um mundo de distância...

Pensemos no seguinte exemplo:
O António, guloso, mete a mão no tacho para tirar um pedaço de comida.
Queima-se devido à temperatura, e adopta dois comportamentos distintos:
1º - Retira a mão do tacho repentinamente, recolhendo a mão junto de si, e;
2º - Grita "AI! FODASSE!!!" e põe-se a soprar para a mão na tentativa de a arrefecer.
No primeiro momento, o António reagiu ao estimulo externo - teve uma reacção mecânica, afastando a mão do local que lhe queimou a mão.
No segundo momento, o António sentiu a dor - teve uma resposta fisiológica e emocional ao estímulo externo provocado pelo calor sobre a sua mão.
Se substituirmos neste exercício o António por uma couve, verificamos que à couve faltará a resposta fisiológica e emocional.
Logo, não há "Dor". 
Haverá sim, "reacção mecânica".

Pode assim dizer-se com alguma confiança que as plantas "sentem", em sentido lato.
Já não se pode é dizer que as plantas "sentem dor", em sentido estrito.
- - Alto! - Irrelevante?! Porquê irrelevante!?

Ao afirmar-se que "As plantas também sentem dor", pretende-se indiciar:

A) - A ideia que os veganos provocam sofrimento às plantas quando as comem, ao mesmo tempo que defendem que é errado, injusto e imoral provocar sofrimento desnecessário a terceiros, logo serão hipócritas;

B) - A ideia que os veganos matam muito mais plantas na sua vida do que um carnista mata animais na sua vida, para as suas respectivas alimentações, logo serão hipócritas.
Vejamos porque a acepção A) é errada.
Porque primeiro, como se verificou as plantas não sofrem, logo, todo este exercício não faz sentido...
Segundo, porque ainda que sofressem, ou que se viesse a descobrir empiricamente que existiria dor no sentido em que o experienciamos e reconhecemos, no reino vegetal, não existiria qualquer hipocrisia, uma vez que o veganismo defende que é errado, injusto e imoral provocar sofrimento DESNECESSÁRIO a terceiros. Ora, desnecessário significa sem sentido, inútil, profuso, supérfluo, escusado.
Como até os carnistas concordarão, comer, não é uma actividade inútil, desnecessária.
É uma actividade obrigatória para garantir o funcionamento dos nossos corpos e subsequentemente, as nossas próprias vidas.
Comer é um acto de sobrevivência, e todos nós temos imperativos de sobrevivência que determinam os nossos comportamentos, seja estes para auto-preservação ou da nossa própria espécie.
Ou seja, neste hipotético, repito, hipotético cenário de dor no reino vegetal, seria necessário matar plantas para as comermos e sobrevivermos - o que não corresponderia a nenhuma hipocrisia, pois o veganismo não defende que é errado comer para viver. Se assim fosse, então um vegano consideraria como imoral e injusto um leão comer uma gazela. O que seria, óbviamente, ridículo.

Vejamos agora porque a acepção B) é errada.
Ora, aqui vou colocar um exercício de lógica ao leitor:
- A massa média de um homem adulto varia entre os 76 e 83 quilos
- A massa média de um bovino adulto varia entre os 195 e 225 quilos
Portanto, um bovino pesa em média mais 125 quilos que um humano.
- Um homem adulto necessita de 3 quilos de comida/dia para sobreviver
- Um bovino adulto necessita de 60 quilos de comida/dia para sobreviver
Portanto, um bovino precisa de mais 57 quilos de comida/dia que um humano para viver (grosso modo, cerca de 20 vezes mais que um ser humano).
- Existem cerca de 7 biliões de humanos no Mundo
- Existem cerca de 90 biliões de animais para abate/consumo humano no Mundo, por ano (sem contar com os animais marinhos mortos para consumo humano - estima a ONU que este numero aumente para os 150 biliões)
Portanto, existem cerca de 7 animais para abate por cada ser humano no Mundo.
Ora, a esmagadora maioria destes 90 biliões de animais para abate e consumo humano são herbivoros (analógicamente, vegetarianos).
Portanto, para alimentar 90 biliões de animais, é necessário produzir pelo menos 20 vezes mais vegetais, do que seriam necessários produzir se nos alimentássemos directamente dos vegetais produzidos, em vez dos animais que consumiram os vegetais.
(Pese embora o maior ou menor rigor nos numeros apresentados, a proporcionalidade é semelhante, pelo que desconsiderar este exercicio porque a vírgula não está no sitio certo, é também, irrelevante...)
Portanto, um carnista mata muito mais plantas (cerca de 20x mais), do que um vegano, nas suas vidas, para suportar as suas respectivas alimentações - o hipócrita é o carnista, e não o vegano.

Conclusão:
Quem usa este e outro tipo de argumentos sem sentido, baseados nas premissas da "sabedoria popular" e preconceitos adquiridos, não tem outro objectivo que não sentirem-se bem consigo próprios.
O que, é um bom sinal.
Na verdade, quer dizer que também se preocupam com o sofrimento e morte desnecessárias dos animais, tanto que sentem a necessidade moral de justificar os seus próprios comportamentos, incoerentes com os seus próprios valores morais.
Fazem-no, através da "Projecção", que é um mecanismo de defesa no qual os atributos pessoais de um determinado indivíduo, sejam pensamentos inaceitáveis ou indesejados, sejam emoções de qualquer espécie, são atribuídos a outra pessoas. A projeção psicológica reduz a ansiedade por permitir a expressão de impulsos inconscientes, indesejados ou não, fazendo com que a mente consciente não os reconheça.

Um exemplo deste comportamento pode ser o de culpar determinado indivíduo por um fracasso próprio, ou transferir para outrém a culpa dos seus próprios comportamentos, decisões e escolhas individuais.

Nestes casos, a mente evita o desconforto da admissão consciente da falta cometida, mantém os sentimentos no inconsciente e projeta, assim, as suas próprias falhas noutras pessoas.
No caso do carnismo, só é possível ultrapassar este fenómeno, quando em vez de olharmos para os nossos próprios interesses egoistas, olharmos para os interesses das vitimas.

Portanto, da próxima vez que oiça "As plantas também sentem dor!", dê um abraço nessa pessoa, e agradeça-lhe a preocupação com os animais.

Aproveite e peça-lhe coerência: - que pare de os comer.
Os animais agradecem, e para as plantas, é irrelevante e indiferente...


Texto de Pedro Garcia



E AS PLANTAS? por Bruno Müller

  • A sensibilidade das plantas e o vegetarianismo
  • A sensibilidade que as pessoas atribuem às plantas
  • As plantas
  • Consciência animal: Algo ou “alguém” gritante
  • Mas como você pode provar que as plantas não sentem dor?
  • Não há estudos que demonstram que plantas podem gritar, etc.?
  • Plantas também sentem dor e medo. Então temos que parar de comer plantas também.

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