sábado, setembro 22, 2012

Venho da vigília em frente ao Palácio de Belém, onde um presidente eleito com 1/4 dos votos possíveis consulta um Conselho de Estado que ninguém escolheu sobre a situação de um Governo eleito por uma mesma minoria, confrontado com o fracasso da sua política e com o geral repúdio da população. Gosto desta sensação de um país a despertar, mas incomodam-me algumas questões: quantas pessoas estariam na rua se não houvessem mexido nos seus subsídios e pensões de reforma, quantos de nós continuaríamos a manifestar-nos se nos devolvessem metade do que nos roubaram, quantos nesta multidão querem realmente mudar a sua vida e o mundo? E quantos estão conscientes da verdadeira dimensão da crise, cuja ponta do iceberg é a Troika, o capitalismo selvagem e os governos-marionetas dos partidos do arco do poder (e uma oposição estéril), mas cujo fundo é o colapso da ignorância e da avidez de uma humanidade que se converteu na maior predadora do mundo, da natureza e da vida, devastando os recursos naturais e as espécies animais e vegetais ao ritmo alucinante de mais de 300 por dia? Quem é que lê os relatórios científicos da ONU sobre a insustentabilidade do consumo de carne e lacticínios? Quem é que está preocupado com o futuro dos seus filhos e netos num planeta que dentro de 20 anos conhecerá guerras pela água por causa das nossas opções alimentares de hoje? Quem é que vê e pensa a política para além do imediato? Quem é que pode ser um líder para uma nova civilização? Pensemos nisto e sejamos a resposta. Então terá sentido virmos para as ruas.

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