quinta-feira, novembro 04, 2010

Dietas restritivas, como o vegetarianismo, dividem especialistas



Carolina Vicentin


George Guimarães - (Arquivo Pessoal )
George Guimarães
Os chefs simpáticos aos veganismo já conseguiram provar que pratos saborosos podem ser elaborados sem que sejam utilizados produtos de origem animal. No entanto, a adoção de uma dieta vegana ainda divide a opinião de especialistas.

Segundo o endocrinologista Márcio Mancini, há vitaminas e minerais abundantes nas carnes  que não são encontrados em quantidade suficiente nos vegetais. Por isso, é muito comum a necessidade de suplementação em alimentações restritivas. “A falta de vitamina B12 pode causar disfunções neurais e até mesmo quadros de demência”, afirma. Mancini, que é presidente do Departamento de Obesidade da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem), acrescenta que os vegetais que possuem cálcio apresentam baixa disponibilidade e quantidade do mineral.

Mesmo não aconselhando a dieta vegana, o médico afirma que a alimentação pobre em gordura saturada pode reduzir o risco de doenças cardiovasculares. No entanto, ele ressalta que a falta de vitaminas existentes em carnes e derivados pode levar a problemas bem mais sérios. “A falta de ferro pode favorecer o desenvolvimento de anemia”, atenta.

Em opinião contrária, o nutricionista George Guimarães, vegano há 16 anos, acredita que, por ser mais rica em fibras e substâncias protetoras (fitoquímicos) e mais pobre em gordura saturada e isenta de colesterol, a alimentação estritamente vegetariana tem importante papel na prevenção de doenças crônicas e degenerativas. “Também traz resultados mais imediatos, como a melhora na disposição física, na saúde da pele e em alguns problemas de saúde como alergias respiratórias”, defende.

De acordo com George, os aspectos negativos do veganismo são atribuídos a erros de planejamento da dieta e não a uma característica intrínseca da dieta. Ele explica que as leguminosas, como feijões e lentilha, são boas fontes vegetais de proteínas, assim como as oleaginosas, caso do girassol e do gergelim. “Os cereais integrais colaboram, completando o perfil de aminoácidos encontrados nesses alimentos”, afirma. Para ele, a informação de que o corpo necessita de proteína animal é um mito. “O organismo precisa de aminoácidos, que são as frações que compõem as proteínas. Todos os aminoácidos essenciais à nutrição humana podem ser obtidos de fontes vegetais”, informa.

O estatístico Rafael Souza, 23 anos, optou pelo caminho vegano há quatro anos. “É possível viver sem explorar os animais. Torturar um bicho apenas por ele ser de espécie diferente não é legal”, diz. Ele lembra que gostava de carne, mas que atualmente não sente falta, pois apenas mudou a matéria-prima das receitas preferidas. “Como hambúrguer, cachorro-quente e pizza, porém tudo de soja”, ilustra. Rafael recorda que quando decidiu mudar de hábito, sua mãe achou uma loucura, mas até ela tornou-se adepta de algumas regras. “Ela não usa mais cosméticos que foram testados em animais”, comemora o jovem. (RR)

SEM POSIÇÃO OFICIAL
O Correio procurou o Conselho Federal de Medicina (CFM) e a Associação Brasileira de Nutrologia (Abran) para saber a opinião das entidades sobre a dieta vegana. Ambas não quiserem se posicionar. 

No caso da Abran, a justificativa foi a de que o movimento veganismo não é uma ciência e sim uma ideologia, e, portanto, não cabe aos profissionais discorrerem sobre o tema. Já o CFM deixou o posicionamento a cargo de cada médico.


CARA A CARA

George Guimarães,

nutricionista

“Uma dieta baseada exclusivamente em alimentos de origem vegetal não é apenas viável, mas é também mais saudável para o corpo. O veganismo é a mudança mais poderosa que uma pessoa pode fazer nos seus hábitos diários para melhorar a saúde e preservar o meio ambiente.”

Márcio Mancini - (Carol Croccia/Divulgação )
Márcio Mancini
Márcio Mancini, 
endocrinologista

“Há vitaminas e minerais dos quais as carnes são ricas e os vegetais, pobres. O ferro, a vitamina B12 e o cálcio, por exemplo, estão presentes no leite. Se a pessoa não ingerir essas fontes, não conseguirá suprir tudo o que precisa com os vegetais.”

Fique por dentro do movimento vegano

Filmes
Título: Não Matarás – os animais e os homens nos bastidores da Ciência
De: Denise Gonçalves
Sinopse: O filme aborda a vivissecção, prática que utiliza animais
vivos para experimentos cinetíficos e laboratoriais.

Título: A carne é fraca
De: Instituto Nina Rosa
Sinopse: O documentário mostra a trajetória da carne ate chegar à mesa
das pessoas.

Livro
Título: Cozinhando sem crueldade
Autor: Ana Maria Curcelli
Editora: Gato Preto
Resumo: O livro mostra que é possível ter uma dieta 100% livre de
ingredientes animais. Oferece receitas de café da manhã e pratos
principais. É considerado um manual do modo de vida vegano.

Título: Libertação Animal
Autor: Peter Singer
Editora: Singer
Resumo: O livro aborda as discussões éticas e o sofrimento animal.

Título: Animal as Persons
Autor: Gary Francione
Editora: Francione
Resumo: O livro é uma coletânea de artigos sobre o abolicionismo do animais.

Título: Vegan Freak
Autor: Bob e Jena Torres
Editora: Torres
Resumo:O livro reúne dicas, conselhos e informações de como torna-se um vegano.


Sites
Endereço: www.guiavegano.com.br
Conteúdo: o site dá suporte ao veganos de todo o país. São publicados
de endereços de restaurantes à artigos abordando novas discussões
sobre o assunto.

Endereço: www.vegansociety.com
Conteúdo: o site conta a história do veganismo e dá suporte aos
praticantes do movimento.

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