terça-feira, julho 20, 2010

Touradas: Associação Animal fez o primeiro ensaio para “o protesto silencioso” nas Caldas da Rainha

A Animal pretende protestar nas Caldas da Rainha contra a corrida organizada pelo PP
Foram apenas três os activistas da associação Animal que se deitaram hoje no chão do Largo Adelino Amaro da Costa, em Lisboa, mesmo em frente à sede do CDS-PP, para encarnarem a pele dos touros na corrida promovida pelo partido, no próximo sábado.


Com farpas nas costas e manchados de forma a parecer sangue, esta foi uma “acção unicamente simbólica” para promover o “protesto silencioso” que terá presença marcada em frente à Praça de Touros das Caldas da Rainha.
A Animal pretende protestar nas Caldas da Rainha contra a corrida organizada pelo PP (Rui Gaudêncio)

“Tauromaquia, o pior de Portugal” e “Tourada em Portugal é a vergonha nacional”, eram as duas frases de ordem que se encontravam nos cartazes do “pequeno motim”. Mas não foram suficientes para moverem nenhum democrata-cristão até à janela da sede.

"Sabemos perfeitamente que neste partido há muitas pessoas aficionadas, é que dizem que é uma questão de tradição. Mas o que acontece é que muitas tradições são correctas e outras devem ser abolidas à medida que as sociedades vão evoluindo. E para nós é vergonhoso como é que um partido político tem o seu nome associado a uma tourada. Não é natural”, disse a presidente da Animal, Rita Silva.

Sobre as afirmações do secretário-geral do CDS-PP, João Almeida, em que garantiu que outros partidos políticos também já promoveram touradas, a activista desvalorizou as declarações e apenas esclareceu que “apenas pode haver autarcas de determinado partido que sejam aficionados. Mas pôr a chancela do partido no espectáculo, isso nunca aconteceu”.

Como esta acção foi apenas para “uma oportunidade fotográfica”, os activistas da Animal irão de “armas e bagagens” para as Caldas da Rainha, protestarem contra o “acto vergonhoso do CDS-PP”, um pouco antes de começar a corrida de touros. “Vamos fazer um protesto silencioso, onde contaremos com cerca de uma centena de activistas, com as mãos pintadas de sangue, que demonstra que o CDS-PP teve as mãos sujas de sangue”, contou Rita Silva.

Quanto a propostas para avançar para a proibição das touradas, a presidente da Animal garante que a associação tem trabalhado no assunto. Porém, “e infelizmente as touradas são sempre um tema fracturante”, disse. “Sempre que se vão propor novas leis de protecção dos animais, chega à parte das touradas e os grupos parlamentares dividem-se. Há deputados que são a favor e outros contra”, acrescentou, Rita Silva, dando a conhecer que um dos deputados “mais favoráveis à causa da Animal” é o centrista João Rebelo. “Antes de marcarmos o protesto, mandei-lhe um e-mail e ele disse-me que não tinha conhecimento da tourada do partido e que repudia totalmente este evento do CDS”, contou.

Embora confesse que gostava de ter a presença de João Rebelo na “manifestação” nas Caldas, Rita Silva não crê que o deputado do CDS-PP se exponha no protesto, “mesmo que todo o grupo parlamentar saiba que ele é contra as touradas”.

Mesmo com todo o aparato da corrida de touros do CDS-PP, visto que a cidade acolhedora do evento está repleta de cartazes e até mesmos os espaços comerciais contém folhetos de propaganda, Rita Silva acredita que os portugueses estão a reagir contra a tradição. “Os gostos pessoais de um partido não podem ser misturados com o que a população quer. E segundo uma sondagem que encomendamos em 2006, se houvesse um referendo, o fim das touradas ganhava. É uma tradição que já não faz sentido existir”, argumentou.

Então o que falta para avançar para um referendo? A presidente da Animal afirmou que “falta os próprios políticos terem vontade política de avançar. Há um ou outro deputado que tem essa vontade mas depois é completamente “castrado” pelos parceiros”. “Se houvesse um grupo parlamentar ou um grupo de deputados que avançasse com uma proposta para a proibição das touradas, seria excelente. Mas temos que ser nós a forçar isso”, acrescentou a activista.

É nas zonas rurais que a maioria das pessoas ainda está muito ligada à tradição. Contudo, já há algumas surpresas, nomeadamente vindas dos mais jovens. “Às vezes até fico surpreendida como é que as nossas t-shirts contra as touradas se vendem em Santarém ou Vila Franca de Xira”, revelou Rita Silva, mostrando o desagrado em relação aos produtores do programa “Arte e Emoção” transmitido pela RTP1 como exemplo de “insensibilidade” por promoverem a arte tauromáquica. Para a presidente da Animal, será o tempo o “melhor educador” para que as pessoas se aperceberam que “a tradição das touradas mais dia, menos dia terão de terminar”. “Trabalhamos muito em educação e queremos muitos que as pessoas se eduquem. Não é só o legislador que educa através das leis, o povo também educa o legislador, para forçámo-lo a fazer leis mais justas”, rematou.

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