quinta-feira, julho 29, 2010

Fim de touradas vai custar 500 milhões aos catalães

Fim de touradas vai custar 500 milhões aos catalães
Aprovada no meio de polémica a proibição de corridas de touros a partir de 2012.

No meio de muita polémica, com manifestantes a favor e contra as corridas de touros a insultarem-se nas ruas de Barcelona, o Parlamento da Catalunha aprovou ontem a proibição desta prática na comunidade autónoma a partir do dia 1 de Janeiro de 2012. "Abaixo a crueldade", gritavam uns, defensores dos direitos dos animais. "Viva a liberdade", pediam outros, aficionados das corridas.
O fim da Fiesta pode custar às autoridades catalãs até 500 milhões de euros em indemnizações ao sector tauromáquico, o que dá 57 euros por cada catalão, revelou um estudo de Vicente Royuela, professor de Economia da Universidade de Barcelona, realizado a pedido da Plataforma de Promoção de Defesa das Corridas e revelado pelos media espanhóis.

A Iniciativa Legislativa Popular, promovida pela plataforma Prou, que conseguiu reunir um total de 180 mil assinaturas, foi aprovada por 68 votos a favor. Cinquenta e cinco deputados catalães votaram contra e nove optaram pela abstenção. Três socialistas votaram a favor, apesar de o presidente da Generalitat da Catalunha, o socialista José Montilla, se ter manifestado contra.
"Votei contra porque acredito na liberdade e preferia que não houvesse imposição legal. Lamento as pretensões dos que quiseram fazer disto um termómetro da relação Catalunha-Espanha", declarou o antigo ministro da Indústria de Rodríguez Zapatero, apelando à moderação tanto daqueles que estão a favor como dos que estão contra as corridas.

O Governo espanhol fez saber que é desfavorável à proibição, apesar de respeitar a decisão do Parlamento da Catalunha. Fontes do Executivo de Madrid garantiram, à agência Efe, que não é sua intenção generalizar este tipo de proibição a nível nacional e que o assunto nem sequer está na agenda da equipa de Zapatero.
Nas Canárias, as corridas com morte do touro estão já proibidas desde o ano de 1991, à luz da Lei de Protecção dos Animais. Esta baniu também as lutas de cães e o tiro aos pombos e restringiu fortemente as lutas de galos.

O líder do Partido Popular, principal formação da oposição, indicou que vai propor ao Parlamento espanhol que a Fiesta seja declarada Interesse Cultural Geral. Mariano Rajoy pretende que o PSOE "se retracte e diga se acredita ou não na igualdade de todos os cidadãos e na liberdade".
As corridas de touros geram 2,5 mil milhões de euros por ano em volume de negócios e empregam cerca de 40 mil pessoas. Mas, mesmo assim, a crise e a falta de espectadores já estava a afectar fortemente o sector. Catorze milhões de espectadores assistiram a 900 corridas de touros em 2009 (menos 350 do que as realizadas em 2008), segundo os media espanhóis. Na Catalunha houve apenas 16 corridas organizadas em 2007 (menos 21 do que em 2001).

A tauromaquia é uma tradição espanhola que remonta à Idade Média, mas que tem sido fortemente criticada pelos defensores dos direitos animais - que denunciam a sua crueldade. É no século XIX, sobretudo, que a tauromaquia moderna se desenvolve na França e na Espanha. Neste país popularizaram-se figuras como Joselito Belmonte, Manolete, Dominguin, Ordoñez, El Cordobes ou José Tomas.

No caso de Portugal, realizam- -se corridas de touros, mas regra geral o animal não é morto. A excepção é Barrancos, vila raiana do distrito de Beja, onde uma lei de excepção aprovada em 2002 veio permitir que a tradição dos touros continuasse. Não sem antes ter havido polémica na vila, onde há grande proximidade com a cultura espanhola.

Também em terras lusas é frequente haver manifestações por parte dos que defendem os direitos dos animais, nomeadamente à porta da renovada praça de touros do Campo Pequeno, em Lisboa, onde alguns activistas já chegaram a estar seminus para protestar contra aquela prática.

Fonte: DN


"Proibir touradas na Catalunha é uma medida descabida"

Entrevista com o matador de touros português que vive em Espanha sobre a proibição das touradas decretada na Catalunha.
A Catalunha aprovou ontem a proibição das corridas de touros a partir do dia 1 de Janeiro de 2012. O que acha desta medida?
Entendo que esta medida é um retrocesso tanto cultural como socioeconómico e por conseguinte até político. É uma medida descabida porque vai contra o que é a prática plena da verdadeira democracia.
Já participou em muitas corridas nesta comunidade autónoma espanhola?
Sim. Participei em corridas inseridas nas feiras e festas das cidades.
Considera que o público catalão é, de alguma forma, diferente do das outras regiões de Espanha?
No essencial, não. Embora a diversidade de gostos e costumes possa existir não só dentro de uma cidade mas inclusivamente no seio de uma família. Catalunha é Espanha e, sendo uma comunidade autónoma, o público catalão aficionado é tão conhecedor e exigente na arte do toureio como o público andaluz e as demais 15 comunidades espanholas.
Vive em Espanha para poder ser matador de touros. Não conseguiria ser toureiro sem matar o touro?
Poderia ser toureiro, mas não matador de touros. Assim como um cirurgião só o é porque faz cirurgias, senão seria só médico. A sua realização profissional está condicionada ao uso do bisturi.
Quando vai executar a sorte suprema [momento da morte], pensa alguma vez no sofrimento do touro?
Sinto que estou a anular o sofrimento do touro e a dignificar a sua morte na arena. A arena é um cenário onde a morte é real. E onde por vezes o próprio toureiro também morre.
Acha que Espanha sem as touradas não seria o mesmo país?
Claro que não. Se as pessoas são o que são pelas vivências e circunstâncias da sua própria vida, um país também não foge à regra. A arte do toureio faz parte da cultura espanhola, pois a sua interpretação está intimamente relacionada com o canto, o baile, a religiosidade das suas várias manifestações festivas, ou seja, o sentimento e a autenticidade do carácter espanhol.
A economia catalã pode sair seriamente prejudicada com esta medida?
Sim. A nível económico um país deve estar aberto ao exterior e quanto mais diversificado melhor. A tauromaquia é um elemento de cultura importante no turismo de um país. As praças estavam sempre cheias. Sem dúvida irá haver um retrocesso económico.

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