terça-feira, julho 13, 2010

Entrada “Vegetarianismo” na Infopédia:

Carta enviada pelo Centro Vegetariano à direcção da Infopédia (propriedade da Porto Editora)







A entrada supracitada - Vegetarianismo . In Infopédia , mais do que um artigo informativo, é um artigo de opinião, e que apresenta graves lacunas e erros, que vão contra o que se espera de uma Enciclopédia. Designadamente:
  1. Primeiro parágrafo. Alerta o artigo que a dieta vegetariana é de risco pelas limitações que tem em determinados nutrientes, em certas fases da vida. Afirma ainda que os adultos podem optar por este regime desde que garantam o equilíbrio de proteínas.1.1. Pode a Porto Editora esclarecer qual o risco acrescido que coloca a dieta vegetariana a idosos, grávidas ou crianças, relativamente a uma dieta não vegetariana? O Centro Vegetariano desconhece qualquer estudo que, isoladas as restantes variáveis, demonstre inequivocamente que a alimentação vegetariana é um factor de risco acrescido. Requer, como qualquer outra dieta, maiores cuidados em grupos de risco.1.2. A segunda afirmação do parágrafo induz a pensar que, afinal, o único nutriente problemático é a proteína. Pode a Porto Editora indicar algum estudo que prove que os seguidores de uma dieta vegetariana apresentam problemas de equilíbrio de proteínas/aminoácidos acima da média? Do nosso conhecimento, trata-se mais de um mito do que um facto comprovado.
  2. Segundo e terceiro parágrafos. Estes parágrafos levam a crer que o vegetarianismo terá tido origem no Hinduísmo, e que a principal motivação para adoptar um estilo de vida vegetariano será de origem mística ou cultural. Ambas as assunções estão erradas. Por um lado, a história do vegetarianismo é bastante rica e diversa (vide e.g. [1]). Por outro lado, as principais motivações para adoptar um estilo de vida vegetariano são éticas, ecológicas e de saúde (vide e.g. [2]). 
  3. Sétimo parágrafo. Parece muito pouco profissional, para dizer o mínimo, que uma enciclopédia elenque supostas desvantagens do vegetarianismo, e nenhuma vantagem. 
  4. Oitavo parágrafo. Aconselhamos vivamente a revisão por um nutricionista qualificado, ou a remoção do mesmo. Este parágrafo repete mais uma vez mitos comuns (e.g., o mito de que o cálcio só se obtém de fontes de origem animal, fazendo tábua rasa de fontes como vegetais de folha verde, sésamo, melaço, farinha de alfarroba, amêndoa, etc.) e induz o leitor, uma vez mais, em conclusões erradas (e.g., que é preciso consumir produtos de origem animal para obter vitaminas A, B12 ou D, quando todas elas podem ser obtidas naturalmente e sem esforço de fontes vegetais, seja pela ingestão ou pela simples exposição ao sol). 
  5. Nono parágrafo. Mais uma vez, o mito das proteínas, já referido em 1.1.
  6. Décimo parágrafo. A vossa afirmação é demasiado generalista, induzindo o leitor em erro. Apenas um dos ácidos do ómega 3, o ácido EPA - ácido eicosapentanóico é encontrado essencialmente no peixe (embora também exista em pequenas quantidades em algumas algas, um tipo de alimento comummente consumido por vegetarianos). Todos os outros ácidos ómega 3, 6 e 9 se encontram em fontes vegetais, como sementes, óleos vegetais ou algas, por exemplo. No entanto, mesmo no caso do ácido EPA, o nosso organismo consegue converter o ácido alfa-linoleico (ALA) em EPA.
  7. Décimo primeiro parágrafo. Boa parte dos vegetarianos afirma que o facto de o ser lhe despertou o apetite para experimentar novos alimentos, ler rótulos e saber mais sobre aquilo que come. O Centro Vegetariano não tem quaisquer números para avançar, mas parece-nos que a variedade de alimentos de elevado valor nutricional disponíveis no mercado é tão grande que o facto de não usar alimentos de origem animal não pode ser propriamente apresentado como uma desvantagem, do ponto de vista prático. Mesmo para quem vive em sítios remotos, hoje em dia podem ser encomendados cabazes de produtos, com entrega ao domicílio, a preços acessíveis às massas. Na ausência de estudos que provem que a relevância do número de alimentos disponíveis tem impacto para a qualidade da alimentação do consumidor típico, parece-nos igualmente mais honesto que este parágrafo seja removido.
  8. Décimo segundo parágrafo. São repetidas as mesmas afirmações já comentadas acima.
  9. Décimo terceiro parágrafo. É perfeitamente possível equilibrar refeições vegetarianas com alimentos acessíveis às massas, vendidos em qualquer super ou hipermercado. A combinação carne/peixe+acompanhamento é uma questão cultural. A carne/peixe não têm de ser substituídos por produtos processados de propriedades equivalentes, vulgarmente conhecidos como “substitutos da carne”. Nessa perspectiva, a alimentação vegetariana não é necessariamente mais cara, pelo menos para o consumidor informado (vide a este propósito [2]).
  10. Último parágrafo. O Centro Vegetariano desconhece quaisquer provas irrefutáveis do tipo de alimentação do Homem “desde sempre” - até porque essa questão é paralela à da evolução do ser humano, ela própria ainda objecto de intensa pesquisa e debate. A menos que a Porto Editora disponha de evidências que desconhecemos, e que teríamos todo o gosto em conhecer, parece-nos que seria mais correcto remover a afirmação sobre o tipo de alimentação do Homem “desde sempre”.

Finalmente, sugerimos, uma vez mais, que os autores desta entrada devem consultar profissionais qualificados, ou, no mínimo, conheçam as posições do Physicians Committee for Responsible Medicine [3] e da American Dietetic Association [4]. E solicitamos que, a bem da verdade, esta entrada seja rapidamente modificada.



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